segunda-feira, outubro 01, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 206


E quantos anos se calcula que levará a inaugurá-lo depois que a construção começar? O porto no Malhado vai ser uma batalha dura, coronel. Enquanto isso, o cacau deve continuar a sair pela Baía?

Quem paga o transporte? Nós exportadores e os senhores, fazendeiros. Não pense que vejo a melhoria da barra como solução. Os que me combatem argumentam com o porto, mal sabem que penso como eles. Apenas, é melhor ter a barra praticável enquanto não se tem o porto.

Vamos começar a exportação directa. Mas, apenas terminem os trabalhos da barra, começarei a lutar pelo porto. Uma coisa mais: uma draga ficará permanentemente em Ilhéus para garantir o canal aberto.

 - Compreendo… - Estava pensativo, não sorria.

 - Desejo que o senhor saiba uma coisa: não estou fazendo política, é pelo mesmo motivo que o senhor.

- Uma sorte para Ilhéus. Pena que o senhor não se tenha espalhado também por Itabuna. A não ser no caso das marinetes.

 - Ilhéus é o meu centro de acção. Mas eleito ou não pretendo estender muito os meus negócios, sobretudo em Itabuna. Uma das coisas que me trouxe aqui foi abrir uma filial da exportadora. Vou fazê-lo.

Bebiam o café. Aristóteles saboreava-o junto com a notícia:

 - Muito bem, Itabuna precisa de gente empreendedora.

 - Bem, já conversámos. Disse-lhe, coronel, o que tinha a lhe dizer. Não vim lhe pedir votos, sei que o senhor é unha e carne com o coronel Ramiro Bastos. Tive grande prazer em vê-lo.

 - Porquê toda essa pressa? Mal chegou… Quem disse ao senhor que eu era unha e carne com o velho Ramiro?

 - Mas, todo o mundo sabe disso… Em Ilhéus dizem que os seus votos garantirão a eleição as eleições do deputado federal e do estadual. Ou seja, do Dr. Victor Melo e do Dr. Alfredo Bastos.

Aristóteles ria como se estivesse divertindo enormemente:

 - O senhor tem mais uns minutos a perder? Vou-lhe contar umas histórias, vale a pena.

Gritou pelo empregado, pediu mais café:

 - Esse tal Dr. Victor, que é deputado federal, ninguém tinha visto mais gordo. O Governo impôs, o coronel aceitou, que é que eu ia fazer? Não tinha nem em quem votar, mesmo se quisesse. A oposição em Ilhéus e Itabuna acabou com a morte de seu Cazuza. Pois muito bem: esse tal doutor, depois de eleito, apareceu aqui. De carreira. Quando viu a cidade torceu o nariz. Achou tudo feio. Perguntou que diabo eu estava fazendo que não ajardinava, não fazia e acontecia.

Respondi que não era jardineiro, era intendente. Ele não gostou. Para falar a verdade não gostou de nada. Nem quis ver as estradas, as obras dos esgotos, nada. Não tinha tempo.

Pedi verbas para várias coisas. Mandei um mundo de cartas. O senhor botou essas verbas no orçamento? Nem ele. Por muito favor, cartão no fim do ano, de boas-festas. Diz que ele vai ser candidato de novo. Em Itabuna não vai ter voto.
(Click na imagem. Estes olhos, de lindos, até assustam)

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