sexta-feira, setembro 28, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 204


Mundinho constatou a verdade da afirmação, apesar de ser muito bem recebido na cidade vizinha. Várias pessoas foram à estação no dia anunciado para a sua chegada e levaram um blefe. Mundinho veio pela rodagem, em seu novo automóvel, um sensacional carro preto que enchia as janelas de curiosos ao passar nas ruas.

Seus fregueses festejaram-no com almoços e jantares, levaram-no a passeios, ao cabaré, ao Clube Grapiúna, até às Igrejas. Só que não lhe falavam de política. Quando Mundinho lhes expunha o seu programa, concordavam inteiramente:

 - Não fosse estar comprometido com Aristóteles e meu voto era para o senhor.

O diabo é que estavam todos comprometidos com Aristóteles. No dia seguinte de sua estada, o coronel Aristóteles passou no hotel para visitá-lo. Mundinho não estava, ele deixou uma palavra amável com um convite para o exportador vir tomar café na Intendência. Mundinho decidiu aceitar.

Era o coronel Aristóteles Pires um homenzarrão acaboclado, picado da varíola, de riso fácil e comunicativo. Fazendeiro de recursos médios, colhendo suas mil e quinhentas arroubas, sua autoridade era indiscutível em Itabuna.

Nascera para administrar, tinha no sangue o gosto pela política. Jamais, desde que fora nomeado subdelegado, ninguém pensara em disputar-lhe a chefia, nem mesmo os grandes fazendeiros do município.

Começara ao lado dos Badarós, mas soube perceber, antes que ninguém, o declínio político do antigo senhor derrotado nas lutas pelas matas de Sequeiro Grande.

Deixou-os quando ainda era feio abandoná-los. Mesmo assim quiseram matá-lo, escapou por um fio. O tiro pegou num cabra que o acompanhava. Os Bastos, agradecidos, fizeram-no subdelegado da então Tabocas, vilarejo nas proximidades das roças de Aristóteles. E em pouco tempo o povoado miserável começou a transformar-se numa cidade.

Alguns anos depois levantou ele a bandeira da separação do distrito de Tabocas, desligando-o de Ilhéus, e transformando-o no município de Itabuna. Em torno dessa ideia juntou-se todo o povo. O coronel Ramiro Bastos enfureceu-se. Naquela ocasião quase se deu o rompimento entre os dois.

Quem era Aristóteles, exaltava-se Ramiro, para querer amputar Ilhéus, roubar-lhe um pedaço enorme? Aristóteles, fazendo-se humilde e mais devotado que nunca, tratou de convencê-lo. O Governador de então lhe havia dito, na Baía, que só faria aprovar o projecto se ele obtivesse o consentimento de Ramiro.

Foi difícil, teve de solicitar, mas obteve. Que perdia Ramiro – perguntava ele. A formação do novo município era inevitável, viria quisessem ou não. O coronel podia adiá-la não impedi-la.

Porque Ramiro, em vez de combater a ideia, não surgia como seu patrono? Ele, Aristóteles, não pretendia, fosse subdelegado ou intendente, senão apoiar Ramiro. Esse em vez de chefe de um município, mandaria em dois, essa a única diferença.

Ramiro deixou finalmente convencer-se e compareceu às festas de instalação da novel intendência. Aristóteles cumpriu o prometido: continuou a apoiá-lo, apesar de guardar um secreto amargor das humilhações que o coronel o fizera passar. Aliás, Ramiro continuava a tratá-lo como se ele fosse ainda o jovem subdelegado de Tabocas.
(Click na imagem mas com sensibilidade... é evidente que a jovem teve uma noite atribulada e ainda não está refeita)

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