CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 204
Mundinho constatou a
verdade da afirmação, apesar de ser muito bem recebido na cidade vizinha.
Várias pessoas foram à estação no dia anunciado para a sua chegada e levaram um
blefe. Mundinho veio pela rodagem, em seu novo automóvel, um sensacional carro
preto que enchia as janelas de curiosos ao passar nas ruas.
Seus fregueses
festejaram-no com almoços e jantares, levaram-no a passeios, ao cabaré, ao
Clube Grapiúna, até às Igrejas. Só que não lhe falavam de política. Quando Mundinho lhes expunha o seu programa, concordavam inteiramente:
- Não fosse estar comprometido com Aristóteles
e meu voto era para o senhor.
O diabo é que estavam
todos comprometidos com Aristóteles. No dia seguinte de sua estada, o coronel
Aristóteles passou no hotel para visitá-lo. Mundinho não estava, ele deixou uma
palavra amável com um convite para o exportador vir tomar café na Intendência.
Mundinho decidiu aceitar.
Era o coronel Aristóteles
Pires um homenzarrão acaboclado, picado da varíola, de riso fácil e
comunicativo. Fazendeiro de recursos médios, colhendo suas mil e qui nhentas arroubas, sua autoridade era indiscutível
em Itabuna.
Nascera para administrar,
tinha no sangue o gosto pela política. Jamais, desde que fora nomeado subdelegado,
ninguém pensara em disputar-lhe a chefia, nem mesmo os grandes fazendeiros do
município.
Começara ao lado dos
Badarós, mas soube perceber, antes que ninguém, o declínio político do antigo
senhor derrotado nas lutas pelas matas de Sequeiro Grande.
Deixou-os quando ainda era
feio abandoná-los. Mesmo assim qui seram
matá-lo, escapou por um fio. O tiro pegou num cabra que o acompanhava. Os
Bastos, agradecidos, fizeram-no subdelegado da então Tabocas, vilarejo nas
proximidades das roças de Aristóteles. E em pouco tempo o povoado miserável
começou a transformar-se numa cidade.
Alguns anos depois
levantou ele a bandeira da separação do distrito de Tabocas, desligando-o de
Ilhéus, e transformando-o no município de Itabuna. Em torno dessa ideia
juntou-se todo o povo. O coronel Ramiro Bastos enfureceu-se. Naquela ocasião
quase se deu o rompimento entre os dois.
Quem era Aristóteles,
exaltava-se Ramiro, para querer amputar Ilhéus, roubar-lhe um pedaço enorme?
Aristóteles, fazendo-se humilde e mais devotado que nunca, tratou de
convencê-lo. O Governador de então lhe havia dito, na Baía, que só faria
aprovar o projecto se ele obtivesse o consentimento de Ramiro.
Foi difícil, teve de
solicitar, mas obteve. Que perdia Ramiro – perguntava ele. A formação do novo município
era inevitável, viria qui sessem ou
não. O coronel podia adiá-la não impedi-la.
Porque Ramiro, em vez de
combater a ideia, não surgia como seu patrono? Ele, Aristóteles, não pretendia,
fosse subdelegado ou intendente, senão apoiar Ramiro. Esse em vez de chefe de
um município, mandaria em dois, essa a única diferença.
Ramiro deixou finalmente
convencer-se e compareceu às festas de instalação da novel intendência.
Aristóteles cumpriu o prometido: continuou a apoiá-lo, apesar de guardar um
secreto amargor das humilhações que o coronel o fizera passar. Aliás, Ramiro
continuava a tratá-lo como se ele fosse ainda o jovem subdelegado de Tabocas.
(Click na imagem mas com sensibilidade... é evidente que a jovem teve uma noite atribulada e ainda não está refeita)
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