quinta-feira, setembro 27, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 203


 - E é homem leal – Ramiro aprendera nos tempos a apreciar o valor da lealdade.

 - Ainda assim pode perder.

 - É preciso ganhar. E ganhar aqui em Ilhéus. Não quero recorrer ao Governador para degolar ninguém. Quero ganhar! – Chegava a parecer uma criança obstinada a reclamar um brinquedo. – Sou capaz de largar tudo se tiver de me manter à custa de prestígio alheio.

 - Compadre tem razão – falou Amâncio – Mas para isso é preciso assustar um bocado de gente. Soltar uns cabras na cidade.

 - Tudo o que for preciso, menos perder nas urnas.

Estudavam os nomes para o Conselho Municipal. Tradicionalmente, a oposição elegia um conselheiro. Tradicionalmente também era sempre o velho Honorato, oposicionista só de nome, devendo obséquios a Ramiro. Chegava a ser mais governista que todos os seus colegas.

Desta vez nem puseram o nome dele na chapa.

 - O Doutor se elege. É quase certo.

 - Deixa ele se eleger. É homem de valor. E sozinho, que oposição pode fazer.

O coronel Ramiro tinha um fraco pelo Doutor. Admirava seu saber, o conhecimento que tinha da história de Ilhéus, gostava de ouvi-lo falar do passado, contar as trapalhadas dos Ávilas. Daria lustre ao Conselho, terminaria votando com os outros como o Doutor Honorato.

Mesmo naquela hora, de cálculos eleitorais nem sempre optimistas, quando a sombra da derrota se desenhava na sala, Ramiro era o grão-senhor, magnífico, a deixar generoso uma cadeira para a oposição e a designar o mais nobre dos adversários para ocupá-la.

Quanto à vitória, Amâncio prometia.

 - Deixe estar, compadre Ramiro, vou me ocupar. Enquanto Deus me der vida, ninguém vai-se rir de meu compadre nas ruas de Ilhéus. Ter o gosto de ganhar eleição contra ele, isso não. Deixe ficar com a gente, comigo e com Melk.

Enquanto isso, naquele tórrido Verão, os amigos de Mundinho movimentavam-se. Ribeirinho não esquentava lugar, ia de distrito em distrito, propunha-se viajar toda a região. O Capitão também fora a Itabuna, a Pirangi, a Água Preta. Ao voltar aconselhou Mundinho a ir sem tardança a Itabuna.

 - Em Itabuna nem cego vota na gente.

 - Porquê?

 - Você já viu falar em governo com popularidade? Pois existe: o do coronel Aristóteles em Itabuna. O homem tem todo o mundo na mão, desde os fazendeiros até aos mendigos.
Click na imagem: alguém viu por aí estes olhos?)

Site Meter