terça-feira, setembro 25, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

 
Episódio Nº 201


O facto de Mundinho Falcão candidatar-se a deputado federal era animador. O grande perigo seria ele disputar a Intendência. Fizera-se popular, ganhara prestígio. Grande parte dos eleitores citadinos, senão o maior número, votaria nele, seria eleição quase certa.

 - Fazer eleição aqui a bico de pena já tá meio difícil – constatava Melk Tavares.

Para deputado federal, porém, Mundinho dependeria de votos de toda a região, do 7º distrito eleitoral, a incluir não apenas Ilhéus, mas também Belmonte, Itabuna, Canavieiras e Una, municípios cacaueiros, elegendo dois deputados. Um deles, com os votos de Itabuna, Ilhéus e Una.

Una contava pouco, ninharia de votos. Mas Itabuna pesava hoje quase tanto como Ilhéus, e lá mandava sem oposição, o coronel Aristóteles Pires, a dever sua carreira política a Ramiro Bastos. Não fora Ramiro quem o fizera Subdelegado do antigo distrito de Tabocas?

Aristóteles vota em quem eu mandar.

Além disso, os deputados federais não dependiam da política municipal, e só para os candidatos pelas capitais não era a eleição pura formalidade. Nasciam tais deputados dos compromissos do governador e do poder federal.

O actual deputado por Ilhéus e Itabuna (o outro era eleito com os votos de Belmonte e Canavieiras) aparecera na zona apenas uma vez, após as últimas eleições.

Tratava-se de um médico residente no Rio, protegido de um senador federal. Para tal cargo, Mundinho não tinha qualquer possibilidade. Mesmo que ganhasse em Ilhéus, perderia em Itabuna e em Una, e no interior do município as eleições seria fraudadas.

 - Esse está no mato sem cachorro… – concluía Amâncio.

 - Mas é preciso que ele perca mesmo. Que seja derrotado! A começar por Ilhéus. Quero derrota feia – exigia Ramiro.

O Capitão seria candidato a Intendente, Dr. Ezequiel Prado a deputado estadual. Da candidatura do advogado, Ramiro debochava. Alfredo seria certamente eleito. Ezequiel servia para júri e caxixe, para fazer discurso em dia de festa.

Tirando isso, era muito desmoralizado, homem de cachaçadas, de escândalos com mulheres. Além de precisar, como Mundinho, dos votos de todo o distrito eleitoral.

Não oferece perigo – confirmava Amâncio.

 - É bom pra ele aprender a não virar a casaca…

O Capitão dependia apenas dos votos do município de Ilhéus. Adversário perigoso, o próprio Ramiro o reconhecia. Era preciso derrotá-lo no interior do município, na cidade era capaz de ganhar. Cazuzinha, seu pai, derrubado pelos Bastos, deixara uma legenda na vida da cidade: de homem de bem, administrador exemplar.

A primeira rua calçada o fora por ele, ainda hoje se chamava dos Paralelepípedos.

A primeira praça, o primeiro jardim. Leal até ao fanatismo, mantivera-se fiel aos Badarós, gastara quanto possuía a combater os Bastos, numa batalha sem perspectiva.
(Click na imagem onde o verde predomina em homenagem ao meu Sporting que, finalmente, ontem à noite ganhou ao Gil Vicente por 2-1)

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