quarta-feira, setembro 26, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 202


Seu nome continuava citado como exemplo de bondade e dedicação. Não só beneficiava-se o Capitão dessa a cercar a memória do pai, como era ele próprio muito simpatizado.

Nascido em Ilhéus, tendo morado nos grandes centros, tinha cheiro de civilização, orador aplaudido gozava de grande popularidade. De Cazuzinha lhe ficara o amor aos gestos românticos e heróicos.

 - Candidatura perigosa… – confessava Tonico.

 - É um homem amigueiro e bem visto – concordava Melk.

 - Depende de quem seja o nosso candidato.

Ramiro Bastos propunha o nome de Melk, não era ele já presidente do conselho Municipal? O compadre Amâncio não aceitava posto político, por isso nem lhe oferecia. Melk também recusava.

 - Agradeço muito mas não vou querer. No meu modo de ver não deve ser fazendeiro…

 - E porquê?

 - O povo quer gente mais letrada, dizem que os fazendeiros nem têm tempo de se ocupar da administração. Que não entendem muito bem. Não deixam de ter razão. Tempo a gente não tem mesmo…

 - É verdade, disse Tonico – O povo vive reclamando intendente mais habilitado. Deve ser um homem da cidade.

 - Quem?

 - Tonico, porque não? – propunha Amâncio.

 - Eu, Deus me livre. Não nasci para isso. Se me meto em política é por causa de papai. Deus me livre de ser intendente. Estou muito bem no meu canto.

Ramiro levantava os ombros, nem valia a pena conjecturar sobre tal hipótese. Tonico na intendência… só se fosse para encher a sede da municipalidade de prostitutas.

 - Vejo dois nomes – disse – Ou o Dr. Maurício ou Dr. Demóstenes. Fora desses não vejo outro.

 - Dr. Demóstenes chegou aqui não faz quatro anos. Depois de Mundinho. Não é nome para fazer frente ao Capitão – opôs-se Amâncio.

Eu ainda o acho melhor do que o de Maurício. Pelo menos é médico de nomeada, está botando para a frente a construção do hospital, Maurício tem muitos inimigos.

Discutiram os dois nomes, pesando vantagens e desvantagens. Decidiram-se pelo advogado. Apesar de seu conhecido amor ao dinheiro, seu puritanismo exagerado e hipócrita, sua carolice, seu agarramento aos padres em terra de pouca religião, fazem-no impopular. Dr. Demóstenes tão pouco era homem de popularidade. Médico celebrado, não existia em toda a cidade pessoa mais pernóstica, mais suficiente, mais cheia de preconceitos, mais metida a lorde, como se dizia ali.

 - Muito bom médico, mas um lorde pior de engolir que um purgante – Amâncio reflectia a opinião local. – Maurício tem inimigos, mas também tem muita gente que gosta dele. Fala bem.
(Click na imagem. Não é traje para se estar no escritório mas, pessoalmente, não tenho nada contra... pelo contrário)

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