CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 202
Seu nome continuava citado
como exemplo de bondade e dedicação. Não só beneficiava-se o Capitão dessa a
cercar a memória do pai, como era ele próprio muito simpatizado.
Nascido em Ilhéus, tendo
morado nos grandes centros, tinha cheiro de civilização, orador aplaudido
gozava de grande popularidade. De Cazuzinha lhe ficara o amor aos gestos
românticos e heróicos.
- Candidatura perigosa… – confessava Tonico.
- É um homem amigueiro e bem visto –
concordava Melk.
- Depende de quem seja o nosso candidato.
Ramiro Bastos propunha o
nome de Melk, não era ele já presidente do conselho Municipal? O compadre
Amâncio não aceitava posto político, por isso nem lhe oferecia. Melk também
recusava.
- Agradeço muito mas não vou querer. No meu
modo de ver não deve ser fazendeiro…
- E porquê?
- O povo quer gente mais letrada, dizem que os
fazendeiros nem têm tempo de se ocupar da administração. Que não entendem muito
bem. Não deixam de ter razão. Tempo a gente não tem mesmo…
- É verdade, disse Tonico – O povo vive
reclamando intendente mais habilitado. Deve ser um homem da cidade.
- Quem?
- Tonico, porque não? – propunha Amâncio.
- Eu, Deus me livre. Não nasci para isso. Se
me meto em política é por causa de papai. Deus me livre de ser intendente.
Estou muito bem no meu canto.
Ramiro levantava os
ombros, nem valia a pena conjecturar sobre tal hipótese. Tonico na intendência…
só se fosse para encher a sede da municipalidade de prostitutas.
- Vejo dois nomes – disse – Ou o Dr. Maurício
ou Dr. Demóstenes. Fora desses não vejo outro.
- Dr. Demóstenes chegou aqui não faz quatro anos. Depois de Mundinho. Não é
nome para fazer frente ao Capitão – opôs-se Amâncio.
Eu ainda o acho melhor do
que o de Maurício. Pelo menos é médico de nomeada, está botando para a frente a
construção do hospital, Maurício tem muitos inimigos.
Discutiram os dois nomes,
pesando vantagens e desvantagens. Decidiram-se pelo advogado. Apesar de seu
conhecido amor ao dinheiro, seu puritanismo exagerado e hipócrita, sua
carolice, seu agarramento aos padres em terra de pouca religião, fazem-no
impopular. Dr. Demóstenes tão pouco era homem de popularidade. Médico
celebrado, não existia em toda a cidade pessoa mais pernóstica, mais
suficiente, mais cheia de preconceitos, mais metida a lorde, como se dizia ali.
- Muito bom médico, mas um lorde pior de
engolir que um purgante – Amâncio reflectia a opinião local. – Maurício tem
inimigos, mas também tem muita gente que gosta dele. Fala bem.
(Click na imagem. Não é traje para se estar no escritório mas, pessoalmente, não tenho nada contra... pelo contrário)
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