terça-feira, outubro 09, 2012

Já não restam duvidas: a vida veio da água.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 213

Andou por entre as mesas, trocou palavras com uns e outros, todos sentiam estar o coronel a desafiar a desafiar uma acusação. Ninguém se atreveu sequer a tocar no assunto. Amâncio cumprimentou outra vez, subiu a Rua Coronel Adami em direcção à casa de Ramiro.

Os homens no morro haviam já varejado todas as bibocas, procurando na gruta, batido os bosques. Por mais de uma vez estiveram a poucos passos do negro Fagundes.

Subira o morro empunhando ainda o revólver. Desde que Aristóteles saltara da canoa, ele esperava o bom momento para atirar. Com o descampado do Unhão quase deserto àquela hora, decidiu-se, alvejou o coração. Viu o coronel caindo, o mesmo lhe fora mostrado por Loirinho no porto, abalou.

Um tipo o perseguiu, ele o pôs a fugir com um tiro. Meteu-se entre as árvores, a esperar a chegada da noite. Mascava um pedaço de fumo. Ia ganhar um dinheiro grande. Finalmente os barulhos estavam começando. Clemente sabia de pedaços de terra para vender, não tirava a cabeça daquilo, imaginavam botar uma rocinha juntos.

Se os barulhos esquentassem, um homem como ele, Fagundes, de coragem e pontaria, com pouco tempo se arranjava na vida. Loirinho tinha-lhe dito que o encontrasse no Bate-Fundo, no começo da noite, antes do movimento iniciar-se. Lá pelas oito horas. Fagundes estava calmo. Descansou um pouco, começou a andar para o alto, com ideias de descer pelo outro lado apenas a noite caísse, entrar pela praia, ir ao encontro de Loirinho.

Passou tranquilo ante várias casinholas, chegou a dar boa-noite a uma rendeira. Meteu-se no mato, procurou um lugar abrigado, deitou-se a pensar, esperando o escurecer. Dali enxergava a praia. O crepúsculo prolongava-se, Fagundes podia ver, levantando um pouco a cabeça, o sol abrindo um leque vermelho cor de sangue no extremo do mar.

Pensava no desejado pedaço de terra. Em Clemente, coitado, ainda a falar em Gabriela, não a podia esquecer. Nem sabia que ela tinha casado, agora era uma dona rica, na cidade lhe contaram. Lentamente as sombras cresceram. Um silêncio no morro.

Quando se encaminhou para a descida, enxergou os homens. Quase se encontra com eles. Recuou para os bosques. Dali observou-os entrarem nas casas. Seu número crescia. Dividiam-se em grupos. Um mundo de gente armada. Ouviu pedaços de conversas. Queriam pegá-lo vivo ou morto, levá-lo para Itabuna. Coçou a carapinha.

Era assim importante o cujo a quem atirara? A essa hora estaria estendido, no meio das flores, Fagundes estava vivo, não queria morrer, ia ser dele e de Clemente. Os barulhos estavam apenas começando, muito dinheiro a ganhar. Os homens, em grupos de quatro e cinco, andavam para os bosques.

O negro Fagundes entrou para o mato onde era mais denso. Os espinhos rasgavam-lhe as calças e a camisa. O revólver na mão. Ficou uns minutos acocorado entre os arbustos. Não tardou a ouvir vozes:

 - Alguém passou por aqui. O mato está pisado. Esperava ansioso. As vozes se afastaram, ele prosseguiu pelo mato cerrado. Sua perna sangrava, um talho grande, espinho mais brabo. Um animal fugiu ao vê-lo; assim descobriu um buraco profundo, tapado pelos arbustos. Ali se meteu. Era tempo. As vozes novamente próximas:

 - Aqui teve gente. Veja

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