Num feixe de luz e no meio de flores |
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 127
Suspiros de Gabriela
Porque casara com ela? Precisava não… Bem melhor era
antes. Seu Tónica influíra, com o olho nela, Dª Arminda botara fogo, adorava
fazer casamento. Seu Nacib estava querendo, com medo de perdê-la, dela ir
embora.
Besteira de seu Nacib. Porque ir embora, se estava
contente a mais não poder? Com medo dela trocar a cozinha, a cama e seus braços
por casa posta em rua deserta, por um fazendeiro.
Conta na loja e no armazém. Cada velho horroroso, calçado
de botas, revólver na cinta, dinheiro no bolso. Bom tempo era aquele…
Cozinhava, lavava a casa, arrumava. Ia ao bar levando a marmita. Uma rosa na
orelha, um riso nos lábios.
Brincava com todos, sentia o desejo boiando no ar.
Piscavam-lhe o olho, diziam-lhe gracejos, tocavam-lhe a mão por vezes o seio.
Seu Nacib tinha ciúmes, era engraçado.
Seu Nacib vinha de noite. Ela esperando, dormia com
ele, com os moços todos, bastava pensar, bastava querer. Lhe trazia presentes:
coisas da feira, baratezas da loja do tio. Broches, pulseiras, anéis de vidro.
Um pássaro lhe trouxe que ela soltou. Sapato apertado, gostava não…
Andava em chinela, vestida de pobre, um laço de fita.
Gostava de tudo, do qui ntal de
goiaba, mamão e pitanga. De sol esquentar com seu gato matreiro. De conversar
com Tuísca, de fazê-lo dançar, de dançar para ele. Do dente de ouro que seu
Nacib mandou lhe botar. De cantar de manhã, a trabalhar na cozinha. De andar
pela rua, de ir ao cinema com Dª Arminda. De ir no circo quando, no Unhão, circo
se armava. Bom tempo era aquele. Quando ela não era a senhora Saad, era só
Gabriela. Só Gabriela.
Porque casara com ela. Era ruim ser casada, gostava
não… Vestido bonito, o armário cheio. Sapato apertado, mais de três pares. Até
jóias lhe dava. Um anel valia dinheiro, Dº Arminda soubera: custara quase dois
contos de réis. Que ia fazer com esse mundo de coisas? Do que gostava, nada
podia fazer… Roda na praça com Rosinha e Tuísca, não podia fazer. Ir ao bar,
levando a marmita, não podia fazer. Rir pra seu Tonico, pra Josué, pra seu Ari,
seu Epaminondas? Não podia fazer.
Andar descalça no passeio da casa, não podia fazer.
Correr pela praia, todos os ventos em seus cabelos, descabelada, os pés dentro
de água? Não podia fazer. Rir quando tinha vontade, fosse onde fosse, na frente
dos outros, não podia fazer. Tudo quanto gostava, nada disso podia fazer. Era a
Srª. Saad. Podia, não. Era ruim ser casada.
Nunca pensou ofendê-lo, jamais magoá-lo. Seu Nacib era
bom, melhor não podia ser, no mundo não havia. Gostava dela, bem querer de
verdade, loucura de amor.
Um homem tão grande, dono de bar, com dinheiro no
banco. E doido por ela… Era engraçado! Os outros, todos os outros, não era por
amor, só queriam com ela dormir, apertá-la nos braços, beijar sua boca, suspirar
em seu seio. Os outros, todos os outros, sem excepção.
Velhos ou moços, bonitos ou feios, ricos ou pobres. Os
de agora, os de antes, todos os outros. Sem excepção? Menos Clemente. Bebinho,
talvez mas era menino, que sabia de amor? Seu Nacib, ah! esse sabia de amor.
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