(Richard Dawkins)
(Prémio Nobel)
Última Parte
Na sequência deste episódio, e por vingança, segue-se uma guerra onde mais de sessenta mil homens foram mortos.
O tio de Lot, Abraão, foi o pai
fundador das três grandes religiões monoteístas e o seu estatuto de patriarca
confere-lhe uma importância, enquanto modelo de comportamento, apenas
ligeiramente inferior à do próprio Deus.
No entanto, que moralista moderno
iria querer segui-lo?
Na sua longa vida Abraão foi para o
Egipto onde, na companhia da sua mulher Sara, enfrentou um período de escassez
e fome.
Apercebeu-se então, de que uma mulher
assim bela seria cobiçada pelos egípcios e a sua própria vida, enquanto marido,
poderia estar em perigo.
Por esta razão, decidiu fazê-la
passar por irmã e é nesta qualidade que ela foi levada ao harém do faraó sob
cuja protecção Abraão ficou rico (à custa da mulher… já se vê) mas Deus
desaprovou tal aconchego e mandou pragas sobre o faraó e a sua casa (e por que
não sobre Abraão?).
Compreensivelmente magoado com o
agravo, o faraó exigiu saber por que motivo Abraão não lhe tinha dito que Sara
era sua mulher e expulsou-os do Egipto. (Génesis 12:18-19)
Mais tarde, o casal volta a cometer a
mesma proeza desta vez com Amibelec, rei de Guerar, induzido a casar com Sara
julgando, também, que ela era irmã de Abraão e não sua mulher. (Génesis
20:2-5).
Mas se estes episódios são
desagradáveis na história de Abraão eles são pecados menores quando comparados
com a famigerada história do sacrifício do seu filho muito desejado Isaac por
ordem de Deus.
Construído o altar e amarrado Isaac
sobre a lenha já estava Abraão de cutelo em punho pronto para a matança quando
lhe apareceu um anjo e o mandou parar porque Deus, afinal, estava só a brincar,
submetendo Abraão à tentação e testando-lhe a fé.
Pelos padrões da moralidade moderna
esta história vergonhosa é, simultaneamente, um exemplo de abuso de menores, de
tratamento tirânico entre duas relações de poder assimétrico, e o primeiro caso
de que há registo da defesa utilizada em Nuremberga:”Estava apenas a cumprir ordens”.
Mesmo assim, esta lenda é um dos
grandes mitos fundadores das três religiões monoteístas.
Thomas Jefferson, 3º Presidente dos
EUA, estadista, filósofo político, arqui tecto,
arqueólogo e um espírito que representava o Iluminismo emitiu a opinião de que
o “Deus de Moisés e de Abraão é um ser de carácter terrífico – cruel,
vingativo, caprichoso e injusto”.
Há teólogos modernos que dirão que a
história do sacrifício de Isaac por Abraão não deve ser entendida literalmente
mas esse não é o facto relevante.
Relevante, é sim, haver muitíssimas
pessoas nos dias de hoje, repetimos os resultados das sondagens em que metade
dos americanos que votam seguem à risca os textos bíblicos e alguns deles detêm
grande poder político sobre nós, especialmente nos EUA e no mundo islâmico.
A história bíblica da destruição de
Jericó por Josué, tal como a invasão da Terra Prometida em geral, em nada se
distingue, do ponto de vista moral, da invasão da Polónia por Hitler ou do
massacre dos Curdos e dos Árabes das zonas pantanosas do Iraque por Sadam
Hussein
A Bíblia pode até ser uma empolgante
e poética obra de ficção mas não é o tipo de livros que se deva dar a uma
criança para lhe moldar a moral.
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