terça-feira, outubro 02, 2012

O elemento àgua continua a ser dos preferidos...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 207


Mundinho ia falar, o coronel riu e continuou:

 - O coronel Ramiro é homem direito lá à maneira dele. Foi ele quem me fez subdelegado aqui, vai para mais de vinte anos. Diz a todo o mundo que devo o que sou a ele. Quer saber a verdade? Ele só pôde derrubar os Badarós porque eu fiquei com ele.

Outra coisa que dizem é que larguei os Badarós porque estavam perdidos. Larguei quando estavam de cima, ganhando. Eles estavam perdidos, é verdade, mas porque não serviam mais para governar. Política para eles era só acumular terra. Naquele tempo o coronel Ramiro estava para eles como o senhor estava para o coronel.

 - O senhor quer dizer…

 - Espere um pouco, não tardo a acabar. O coronel concordou com a separação de Itabuna. Senão tivesse concordado ia demorar, o Governo ia ficar marombando. Por isso tenho apoiado ele. Mas ele pensa que é porque eu tenho obrigação.

Quando o senhor começou a mexer com as coisas de Ilhéus, comecei a assuntar. Ontem, quando o senhor chegou aqui, eu disse para mim mesmo: vai ser procurado por essa corja de vagabundos. Vamos ver o que ele vai fazer, é a prova dos nove. – Riu seu riso fácil. – Seu Mundinho Falcão, se o senhor quer meus votos, eles são seus. Não lhe peço nada, não é transacção. Só uma coisa: olhe também por Itabuna, a zona do cacau é uma só. Olhe para esse interior abandonado.

Mundinho estava tão surpreso que só pôde dizer:

 - Juntos, coronel, vamos fazer grandes coisas.

 - E agora, guarde a notícia só prò senhor. Quando as eleições estiverem mais perto, eu mesmo me encarrego de anunciar. Não lhe foi possível, no entanto, esperar quanto lhe mandava a sabedoria e a prudência. Porque, dias depois, o coronel Ramiro o chamava a Ilhéus para comunicar-lhe a chapa governista. Aristóteles conversou com seus amigos mais influentes, tomou a marinete para Ilhéus.

Para ele, coronel Ramiro, não mandava abrir a sala das cadeiras de alto espaldar. Entregou-lhe um papel com os nomes:

«Para deputado federal: Dr. Vítor Melo».  Seguia – se a lista, Aristóteles leu devagar, como se soletrasse. Restituiu a folha:

 - Nesse Dr. Vítor, coronel não voto mais. Nem que o mundo venha abaixo. Não presta para nada. Tanta coisa pedi, nada fez.

Ramiro falou com voz autoritária, como quem repreende um menino desobediente:

 - Porque você não se dirigiu a mim para os pedidos? Se pedisse por meu intermédio ele não ia negar. A culpa é sua. Quanto a votar nele, é o candidato do Governo, vamos elegê-lo. É compromisso do Governador.

 - Compromisso dele, meu não.

 - Que quer você dizer?

 - Já lhe disse, coronel. Nesse sujeito não voto.

 - E em quem vai votar?

Aristóteles percorreu a sala com os olhos, pousando-os finalmente em Ramiro:

 - Em Mundinho Falcão.


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