quarta-feira, outubro 03, 2012

Política feita a tiro pelas mãos de jagunço

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 208


O ancião levantou-se, apoiado à bengala, pálido.

 - Estás falando sério?

 - Como lhe digo.

 - Então ponha-se fora dessa casa – Esticava o dedo para a porta – E depressa!

Aristóteles saíu calmo, não se alterou. Foi directo à redacção do Diário de Ilhéus, disse a Clóvis Costa:

 - Pode botar no jornal que aderi a seu Mundinho.

Jerusa veio encontrar o avô caído numa cadeira:

 - Vovô! O que é isso? O que tem? – Gritava pela mãe, pelas empregadas, reclamava um médico.

O ancião recuperava-se, pedia:

 - Médico, não. Não precisa. Mande chamar compadre Amâncio. Depressa.

Os médicos obrigaram-no a guardar o leito. Dr. Demóstenes explicava a Alfredo e Tonico:

 - Deve ter sido emoção muito forte. É preciso evitar que tais coisas se repitam. Mais uma dessas e coração não resiste.

Amâncio Leal chegava, a notícia o alcançara quando ia começar o almoço, deixara a família alarmada. Entrou no quarto de Ramiro.

Na mesma hora em que o Diário de Ilhéus circulava um título a toda a largura da primeira página: «Itabuna Apoia o Programa de Mundinho Falcão», Aristóteles, em companhia do exportador, voltava, num barco, de uma visita às dragas e aos rebocadores na barra.

Vira os escafandristas descerem ao fundo das águas, assistira as escavadeiras comer a areia como animais fabulosos. Ria seu riso fácil. «Juntos faremos o porto de Malhado», dizia a Mundinho.

O tiro alcançou no peito quando ele e Mundinho passavam no descampado do Unhão, vindo para o bar de Nacib tomar qualquer coisa.

 - Álcool não bebo… - acabava de dizer quando a bala o derrubou.

Um negro saíu correndo para as bandas do morro, perseguido por dois populares testemunhas da cena. O exportador amparou o Intendente de Itabuna. O sangue quente sujava-lhe a camisa. Chegavam pessoas, aglomeravam-se.

Ouviam-se gritos ao longe.

 - Pega! Pega assassino! Não deixa fugir!

Da Grande Caçada

Tarde ainda mais agitada que a do assassinato de Sinhàzinha e Osmundo. Talvez desde o fim dos barulhos, há mais de vinte anos, acontecimento algum houvesse tanto comovido e emocionado, não só a cidade mas os municípios limítrofes, todo o interior.

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