sábado, novembro 24, 2012


Afonso Henriques
- Nosso 1º Rei O Fundador
(continuação)


Aceitou o Infante o desafio, todavia não sem que primeiro retorquisse ao conde:

 - Sair eu de Portugal? Deus não há-de permitir que a rosa do sol cubra tal iniquidade! A terra é minha que muito bem a ganhou meu pai.

 - Minha é que ela é – replicou Dª Teresa – que ma deu e deixou D. Afonso de Castela, meu pai e imperador.

 - Pois ver-se-á quem é o dono.

Encontraram-se nos arrabaldes de Guimarães e Dª Teresa estava ao lado do conde a ampará-lo na peleja com suas amabilidades de amor.

O Infante foi desbaratado e só o galope de um bom ginete o pôde salvar. A uma légua de Guimarães corria ainda a bom correr quando topou com a hoste de Egas Moniz, seu aio. Assim que este foi inteirado do corrente da batalha, repreendeu severamente o Infante, dizendo-lhe:

 - Andaste mal em cometer o combate, sem eu estar. Mas tornemos atrás que talvez ainda seja tempo de virar a roda da fortuna.

Volveram ao campo e, porque o Infante atacasse de improviso, a gente do conde estivesse quebrantada da refrega havida antes, ou porque defrontasse agora menor poder, ganharam a batalha.

O conde saiu de Portugal, como cumpria a sua palavra de cavaleiro, mas a mãe, que fora impiedosa e a quem guardava rancor, sem falar na sua desumanidade, pelo opróbrio lançado à memória do conde D. Henrique, meteu-a em ferros, pouco caso fazendo das suas juras e imprecauções:

 - Maldito sejais, filho D. Afonso, víbora que trouxe nove meses nas entranhas! Deserdais-me da terra que me deixou meu pai, quitais-me meu marido, e ainda por cima me prendeis!... Terás o pago! Hoje deitais-me ferros às pernas que vos trouxeram quando eras menino, mas com ferros haveis de ter as vossas quebradas, que a Deus o peço e Deus Nosso Senhor há-de ouvir-me!

 Além das maldições, que era o menos, teve artes Dª Teresa de passar recado a D. Afonso VII de Castela, estimulando-o que, pois Portugal lhe pertencia de direito, viesse, tanto por recobrar o que era seu como pelo que devia à virtude, acudir a sua tia, arrancada ao marido e metida em prisão tão desonesta.

O rei castelhano, que era impulsivo e grandioso mandou logo aprestar os seus homens de armas de Castela, Leão e Galiza e, em grande espavento, marchou contra o Infante de Portugal.

Este saiu-lhe ao encontro em Arcos de Valdevez, infligindo-lhe tal derrota que lhe aprisionou sete condes e infinitos cavaleiros e ele, ferido com duas lançadas, teve de largar à rédea solta para Toledo, com medo de perder aquela cidade.

Mas este homem impetuoso tinha-se por imperador das Espanhas e perante “hombres e Dios” jurou lavrar a desforra.

Em força maior ainda entrou em terra portuguesa e, de improviso, foi cercar o Infante em Guimarães, desapercebida de toda a espécie de provisões.

Foi então que Egas Moniz, homem do melhor engenho e muitos recursos de entendimento, foi à procura do rei castelhano e teve com ele esta conversa alada e dulcerosa que mereceria ser apontada entre as subtilezas dos sábios:
(continua)

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