quarta-feira, novembro 28, 2012


AFONSO HENRIQUES
- Nosso Rei Fundador –


Batalha de Ourique ( I )


A batalha de Ourique travou-se no pino da estação quente, quando a planície alentejana, tornada forno, assava as codornizes em pleno voo se elas, entretanto, não pousassem.

Os soldados da Cruz, cobertos de ferro, esgrimindo o pesado montante, breve esgotavam as borrachas que eles ou os pajens traziam à cinta, como hoje os soldados usam o cantil.


Os árabes, nos cavalos magros e esguios, armados de alfange, incomparavelmente mais leve, afeitos ao clima africano encontrar-se-iam em melhores condições pessoais do que os seus adversários.

Todavia, foram batidos, segundo consta das crónicas, pela força das armas, é verdade mas secundado o Infante pelo braço inquebrantável de Senhor. O milagre, temos de concordar com Alexandre Herculano, não se operou, bem entendido, pela intervenção concreta de novos factores guerreiros ou como um aliado que subitamente comparece no campo da refrega.

O milagre pode exercer-se mercê de circunstâncias psicológicas, que não estamos em condições de medir mas apenas de supor. Chamam-se, hoje em dia, a esses fenómenos de sugestão para uns, alucinatórios para outros, umas vezes por razões místicas, outras vezes obra de impostores e assim podem gregos e troianos convir no milagre de Ourique, que sagrou o pendão real de D. Afonso Henriques.

Se Cristo, com as cinco chagas abertas a irradiar lume apareceu ou não apareceu a D. Afonso Henriques não se discute.

A verdade é que a coorte dos seus assim o julgou e acreditou. Os vindouros tornaram-se eco da voz que correu no arraial cristão e explica o feito estranho de uma vitória ganha no coração da mourama a muitas dezenas de léguas dos bastiões cristãos, contra cinco cabos moiros.

O materialismo histórico veio com a sua foice impiedosa e ceifou este açucenal de poesia e lenda. Podia o Deus soberano intervir de modo tão precário nas contendas dos homens, terçando armas restritas e parciais?

Não era igualmente pai de cristãos e serracenos?

De certo era pai de uns e de outros, se bem que os muçulmanos representassem na Península a violência e a invasão, actos característicos dos povos piratas. Mas, como digo, milagre aqui foi o conjunto de factos anormais ou mesmo prodigiosos, desenvolvendo-se num teatro favorável ao imaginativo de que foram agentes pessoas dispostas pelo seu psiquismo a ver o dedo sobrenatural em tudo o que nós hoje denominamos heroísmo ou temeridade exercendo-se num meio propício, que, incrédulos mas classificadores até à morte, também denominamos azar, bom azar, e os jogadores chamam prosaicamente «sorte de cão».

Foi em Campo de Ourique, Baixo Alentejo que se travou a célebre batalha, sendo inacreditável que perdurasse nos cronicões literários da época um topónimo agrário ou coisa parecida, se nos reportarmos ao obscuro Ourique, em prejuízo de outros termos geográficos de lugares circundantes que ao tempo desfrutavam mais preferência do que aquele Ourique.

E não se argumente que Ourique pode representar, tal como um marco miliário, a posição precisa da batalha e como tal se inscreveu na história.
(continua)

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