terça-feira, novembro 20, 2012

Às vezes parece que o mundo nos cai em cima...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 143


 - Com Tonico? Conta tudo e depressa – Segurava-o com tanta força que lhe rasgara a camisa.

 - Todo dia, depois que sai daqui, seu Tonico se mete em sua casa.

- Tu tá mentindo desgraçado.

 - Todo mundo sabe, se ri do senhor. Me solte, seu Nacib…

Largou a camisa, Bico Fino saíu correndo. Nacib ficou parado, cego, surdo, sem acção, sem pensar. Foi assim que Chico Moleza o encontrou ao voltar da fábrica de gelo.

 - Seu Nacib… Seu Nacib…

Seu Nacib estava chorando.

Botou Chico Moleza em confissão, no reservado do pocker. Ouvia, cobrindo a cara com as mãos. Chico desfiava nomes, detalhes. Desde o tempo em que a contratara no “mercado de escravos”. Tonico era recente, já bem depois do casamento. Apesar de tudo, ele não acreditava, porque não seria mentira? Queria ter provas, ver com seus olhos.

O pior foi a noite com ela, na mesma cama. Não podia dormir. Quando chegara ela acordou a sorrir, beijou-o no rosto. Ele arrancou do peito ferido umas palavras:

 - Estou muito cansado.

Virou-se para o lado, apagou a luz. Afastava-se do calor do seu corpo, deitado na beira da cama. Ela acercou-se, procurando colocar a anca sob sua perna. Não dormiu toda a noite, doido para interrogá-la, saber a verdade por sua boca, matá-la ali mesmo como devia fazer um bom ilheense.

Seria que depois de matá-la já não sofreria? Era uma dor sem limites, um vazio por dentro. Como se lhe tivessem arrancado a alma.

No outro dia foi cedo para o bar. Bico Fino não apareceu. Chico Moleza trabalhava sem o olhar, esgueirando-se pelos cantos. Pouco antes das duas da tarde, Tonico surgiu, bebeu seu amargo, achou que Nacib estava de mau humor.

 - Aborrecimentos em casa?

 - Não, tudo bem.

Contou no relógio quinze minutos após a saída de Tonico. Tirou o revólver da gaveta, meteu na cinta, dirigiu-se para casa. Chico Moleza disse a João Fulgêncio, numa aflição, logo depois:

 - Acuda, seu João! Seu Nacib foi matar D. Gabriela e seu Tonico Bastos.

- Que história é essa?

Contou-lhe em breves palavras, João Fulgêncio tocou-se para a ladeira. Apenas dobrou a igreja e ouviu os gritos de D. Arminda. Tonico vinha correndo prós lados da praia, descalço, o paletó e a camisa na mão, o dorso nu.

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