NOVA VERSÂO DO CAPUCHINHO VERMELHO |
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 136
- Um conto de réis – repetiu
Mundinho Falcão.
- Ah!, seu Mundinho… Pois
não. Senhorita Jerusa, quer ter a bondade de entregar a prenda ao cavalheiro?
Um conto de réis, meus
senhores, um conto de réis! São Sebastião será eternamente grato a seu
Mundinho. Como sabem, esse dinheiro é para a construção da futura igreja, nesse
mesmo local, uma igreja enorme, que substituirá a actual. Seu Mundinho, o
dinheiro é mesmo comigo… muito obrigado.
Jerusa ia buscar a caixa com
as xícaras, entregava ao exportador. As moças vencidas comentavam aquela
loucura. Esse Mundinho, podre de rico, rapaz elegante do Rio, combatia num
combate mortal a família dos Bastos. Uma luta com jornais queimados, homens
surrados, atentados de morte. Fazia frente ao velho Ramiro, disputava-lhe os
cargos, levava-o a ataques de coração.
E, ao mesmo tempo, dava um
conto de réis, duas reluzentes notas de qui nhentos,
por meia dúzia de xícaras de loiça barata, prenda da neta do seu inimigo. Era
mesmo maluco, como iriam entender? Todas elas, de Iracema a Diva, suspiravam
por ele, rico e solteiro, elegante e viajado, indo constantemente à Baía, tendo
casa no rio…
As moças sabiam de suas
histórias com raparigas. Com Anabela, com outras mandadas buscar na Baía, no
Sul. Por vezes as viam passar, elegantes e livres, na avenida da praia. Mas
namoro com moça solteira ele nunca tivera. Com nenhuma delas, mal as olhava.
Tão pouco Jerusa. Esse seu Mundinho Falcão, tão rico e elegante!
- Não valia tanto – disse Jerusa.
- Sou um pecador. Assim, por suas mãos, fico
bem com os santos. Ganho um lugar no céu.
Ela sorriu, não pode
resistir, perguntou:
- Vai ao réveillon?
- Ainda não sei. Prometi ir passar o Ano Bom
em Itabuna.
- Parece que lá vai ser animado. Mas aqui também.
- Desejo que se divirta e tenha um feliz Ano
Novo.
- Para o senhor também. Se não nos
encontrarmos até lá.
Tonico Bastos espiava a
conversa. Não entendia esse tipo. Sonhava ainda com um acordo de última hora, a
salvar o prestígio dos Bastos. Cumprimentou Mundinho com um sorriso. O
exportador respondeu, retirava-se, ia para casa.
Na véspera do ano, Mundinho
esteve em Itabuna, almoçou com Aristóteles, assistiu à inauguração da feira de
gado, importante melhoramento a trazer para o município o comércio de bovinos
de toda a região.
Fez discurso, foi aplaudido,
meteu-se no carro, voltou para Ilhéus. Não que houvesse recordado Jerusa, mas
porque queria passar a noite de ano com seus amigos, no Progresso. Valeu a
pena: a festa foi uma beleza, o povo dizia que só mesmo no Rio era possível
ver-se baile daqueles.
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