sexta-feira, novembro 09, 2012

NOVA VERSÂO DO CAPUCHINHO VERMELHO
GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 136


- Um conto de réis – repetiu Mundinho Falcão.

- Ah!, seu Mundinho… Pois não. Senhorita Jerusa, quer ter a bondade de entregar a prenda ao cavalheiro?

Um conto de réis, meus senhores, um conto de réis! São Sebastião será eternamente grato a seu Mundinho. Como sabem, esse dinheiro é para a construção da futura igreja, nesse mesmo local, uma igreja enorme, que substituirá a actual. Seu Mundinho, o dinheiro é mesmo comigo… muito obrigado.

Jerusa ia buscar a caixa com as xícaras, entregava ao exportador. As moças vencidas comentavam aquela loucura. Esse Mundinho, podre de rico, rapaz elegante do Rio, combatia num combate mortal a família dos Bastos. Uma luta com jornais queimados, homens surrados, atentados de morte. Fazia frente ao velho Ramiro, disputava-lhe os cargos, levava-o a ataques de coração.

E, ao mesmo tempo, dava um conto de réis, duas reluzentes notas de quinhentos, por meia dúzia de xícaras de loiça barata, prenda da neta do seu inimigo. Era mesmo maluco, como iriam entender? Todas elas, de Iracema a Diva, suspiravam por ele, rico e solteiro, elegante e viajado, indo constantemente à Baía, tendo casa no rio…

As moças sabiam de suas histórias com raparigas. Com Anabela, com outras mandadas buscar na Baía, no Sul. Por vezes as viam passar, elegantes e livres, na avenida da praia. Mas namoro com moça solteira ele nunca tivera. Com nenhuma delas, mal as olhava. Tão pouco Jerusa. Esse seu Mundinho Falcão, tão rico e elegante!

 - Não valia tanto – disse Jerusa.

 - Sou um pecador. Assim, por suas mãos, fico bem com os santos. Ganho um lugar no céu.

Ela sorriu, não pode resistir, perguntou:

 - Vai ao réveillon?

 - Ainda não sei. Prometi ir passar o Ano Bom em Itabuna.

 - Parece que lá vai ser animado. Mas aqui também.

 - Desejo que se divirta e tenha um feliz Ano Novo.

 - Para o senhor também. Se não nos encontrarmos até lá.

Tonico Bastos espiava a conversa. Não entendia esse tipo. Sonhava ainda com um acordo de última hora, a salvar o prestígio dos Bastos. Cumprimentou Mundinho com um sorriso. O exportador respondeu, retirava-se, ia para casa.

Na véspera do ano, Mundinho esteve em Itabuna, almoçou com Aristóteles, assistiu à inauguração da feira de gado, importante melhoramento a trazer para o município o comércio de bovinos de toda a região.

Fez discurso, foi aplaudido, meteu-se no carro, voltou para Ilhéus. Não que houvesse recordado Jerusa, mas porque queria passar a noite de ano com seus amigos, no Progresso. Valeu a pena: a festa foi uma beleza, o povo dizia que só mesmo no Rio era possível ver-se baile daqueles.

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