terça-feira, novembro 06, 2012


ENTREVISTA FICCIONADA
COM JESUS Nº 83 SOBRE O TEMA:
“QUEM MATOU JESUS?”



RAQUEL - Sexta-Feira Santa em Jerusalém. A Via Dolorosa inundada de penitentes, homens carregando cruzes, mulheres de joelhos rezando o rosário, dando golpes no peito, evocando aqueles dias de paixão e de morte. Especialmente para o senhor, Jesus Cristo, devem ser recordações terríveis.

JESUS - Tantas, que prefiro esquecer. Minha mãe foi a que levou a pior parte. Madalena, as mulheres, João, os do movimento... para todos foi como se o mundo acabasse.

RAQUEL -  Compreendo que não queira recordar os acontecimentos sangrentos daquela sexta-feira.

JESUS - Tira-me uma dúvida, Raquel. Vejo cruzes por todas as partes. Nas igrejas, nos altares, põem cruzes em suas casas, e até ao colo as colocam.

RAQUEL -  É em sua memória.

JESUS - Que maneira estranha de recordar. Por que se apunhalam o teu irmão, tu levarias um punhal pendurado sobre o colo? A cruz é um instrumento de tortura. É melhor, esquecê-la.

RAQUEL -  Mas essa cruz é sagrada. Morrendo nela, o senhor estava cumprindo a vontade de Deus.

JESUS - Nessa cruz eu estava cumprindo a vontade do governador romano Pôncio Pilatos e a do sumo sacerdote Caifás e a de todos os que se opunham ao Reino de Deus.

RAQUEL - Mas, Pilatos e Caifás não foram instrumentos das mãos de Deus para que se cumpra sua divina vontade?

JESUS - O que estás dizendo, Raquel? Qual era essa divina vontade?

RAQUEL -  Que o senhor morresse na cruz. Isso era o que Deus queria, não?

JESUS - Como Deus ia querer que me torturassem? Percebes o que estás dizendo?

RAQUEL - O que Deus queria, então?

JESUS -  Que eu continuasse anunciando seu Reino.

RAQUEL - O senhor não tinha a missão de morrer na cruz?

JESUS - Como ia ter uma missão dessas? As coisas aconteceram como aconteceram. Depois de tirar os mercadores do Templo, estavam nos procurando por todas as partes. Tentamos fugir para a Galiléia mas, já sabe, no horto de Getsêmani prenderam- me.

RAQUEL -  Nesse horto onde o senhor se resignou a beber o cálice da dor até a última gota.

JESUS - Eu não me resignei a nada, Raquel. Eu rezava: Que não se faça a vontade deles, os que queriam me matar, mas a Tua, Pai, que quer que eu viva.

RAQUEL -  No filme de Mel Gibson, A Paixão, o senhor aparece abraçando a cruz, desejando carregá-la, parece impaciente para que o cravem nela...

JESUS - Não sei quem será esse senhor que tu disseste mas não gostaria de tê-lo como amigo. Quem vai querer ser torturado, cravado em dois paus? Eu tentei escapar, evitar a cruz, como te disse, mas a situação tinha ido longe demais.

RAQUEL -  Se entendo bem, o senhor não queria morrer?

JESUS - E quem quer morrer, Raquel?

RAQUEL -  Nem Deus queria sua morte?

RAQUEL -  Deus?... Deus sempre quer a vida.

RAQUEL -  E Judas? Porque já estava escrito que Judas o ia trair.

JESUS - Nada estava escrito. O que aconteceu aqui em Jerusalém naquela sexta-feira não estava escrito em nenhum livro.

RAQUEL -  O senhor não sabia o final? Não sabia o que aconteceria depois, ao terceiro dia?

JESUS - Eu sabia então e sei agora que os injustos nunca riem por último. Que a morte nunca tem a última palavra. Deus a cumpriu em mim. E tu, vê, estou aqui, falando contigo.

RAQUEL - Pois… nós cumprimos mais um programa e nos despedimos por hoje. De Jerusalém, Raquel Pérez, Emissoras Latinas.

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