sábado, novembro 10, 2012

O Blusão Infeliz


Lamento que o blusão que enviei à tua mulher lhe tenha ficado grande. No fundo, ela limita-se a seguir o padrão da mulher portuguesa de acordo com o qual a “mulher e a sardinha querem-se miudinhas”e, portanto, bem-haja ela que cumpre este requisito que às mulheres do nosso país diz respeito e sorte para ti que a podes abraçar com aquele amplexo de carinho e protecção, para já não falar de como seria deprimente teres de beijá-la em bicos de pés.


No que a ti se refere, é certo não seres muito grande mas és bem constituído, quero dizer, não tens físico de “fuinha”, e daí os tais centímetros a menos no Blusão e, como ele não vai alargar nem encolher, resta à tua mulher ganhar físico ou tu perderes “cabedal” o que não é provável, nem uma coisa nem outra.

Ficamos, assim, com o problema de um blusão triste que não tem dono nem dona e quando, lá de longe em longe, o vestires por uma questão de piedade, ele vai sentir que está a menos no teu corpo e, por isso, não vai poder agradar-te o que irá constituir para ele mais um motivo de tristeza porque os blusões, mais do que qualquer outra peça de roupa, como tu bem sabes e se pode ver pela imagem ao lado, existem para agradar aos donos.

Esta situação de desajustamento das peças de roupa ao nosso corpo tem sido, para mim, desesperante, não com blusões, felizmente, mas com calças que não têm, como é óbvio, a dignidade dos blusões.

Como sabes, porque tens olhinhos na cara, eu tenho um problema de cintura, a falar verdade, não tenho cintura, porque cintura ao fundo da barriga não é cintura, é apenas o local onde ainda se consegue apertar o cinto.

Então, quando ao fim de uma daquelas lutas que por vezes travo para emagrecer, perco uns centímetros, a primeira coisa que fazia era comprar calças de acordo com a minha nova silhueta e ver-me ao espelho com aquela “ameaça” de cintura… ficava feliz!

Depois, meses mais tarde, a “ameaça” desaparecia e eu ficava com um guarda -fato cheio de calças que não me serviam para nada.

Sobrevivia, então, o desespero e a resignação para além do prejuízo, é claro.

Agora, adoptei a estratégia inversa. Só compro calças quando estou mais gordo e se consigo voltar a perder uns "quilitos" desabafo logo com a minha mulher enquanto, com orgulho, seguro as calças na linha da cintura:  - “... estás a ver aqui, olha como estou magro!” e volto de novo a sentir-me feliz sem ter ficado com o guarda-roupa cheio de calças inúteis.

As estratégias a que as pessoas deitam mão para tentarem caber dentro da roupa... e o pobre do blusão que não conseguiu fazer nenhum de nós felizes, sim, porque um bom blusão não é tanto para resguardar do frio como  para satisfazer a nossa vaidade, que já foi só de homens e que hoje é de mulheres também.

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