segunda-feira, dezembro 31, 2012


Adeus, 2012

Não me lembro, depois de setenta e tal anos de vida, um ano deixar tão poucas saudades como este. Sempre percebi que é possível viver com menos dinheiro mas não sem dinheiro algum que é o que acontece no desemprego quando o subsídio termina.

Não me queixo em termos pessoais porque, aposentado da função pública, o pior que me pode acontecer é viver com menos e há muito que eu esperava este menos.

Esta crise não me surpreendeu. Fez-se anunciar, pressentia-se, adivinhava-se. Há quem se apoie em mapas, gráficos, estatísticas, como faz o Medina Carreira, eu li-a, tal como os bruxos, nas nuvens negras que se foram avolumando, nos sinais exteriores de despesismo do Estado sem que me apercebesse de onde vinha essa riqueza.

Era inevitável… quando recebi o meu último subsídio já há muito que eu andava a questionar-me, a medo e só para mim: até quando… até quando…

Estes políticos que a todo o custo nos quiseram agradar, intencionalmente ou não, venderam-nos ilusões, criaram-nos falsas expectativas, não foram sinceros para connosco, embalaram-nos com conversas demagógicas, permitiram que os sonhos se apossassem de nós, fizeram-nos acreditar que ser pobre era coisa do passado, de outros tempos.

Talvez eles, por sua vez, tivessem sido enganados por uma Europa que até nos levou a abandonar a agricultura como sendo o rumo certo, o nosso contributo para o espaço económico europeu porque aquilo que nós deixámos de produzir outros o fizeram no nosso lugar.

Um autêntico escândalo para o meu sogro que aos 88 anos nunca perdoou que a idade o tivesse tirado da sua horta que ele trabalhava com amor para a família, para os amigos e vizinhos apesar dos pedidos lancinantes da minha querida Dª Alice: - “Oh, homem, deixa a enxada sossegada.”

Muitos anos antes, ainda não era eu nascido, um velhote lá da aldeia, perante a insistência do meu avô em investir em fábricas dizia-lhe:

 - “Sr. Jaquim, compre propriedades, olhe que quem se agarra à terra nunca cai…”

Assiste-se agora a um regresso, por parte do pessoal jovem, à agricultura, a uma agricultura diferente, quase que científica, como que, um século depois, a dar razão ao velhote da aldeia: “quem se agarra à terra nunca cai”… à terra e à indústria, à criação efectiva de riqueza...

Com bons ou maus presságios, desejo a todos, estejam onde estiverem, um Ano de 2013 com saúde e, já agora, com uns trocos na algibeira e umas notitas na carteira… 

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