terça-feira, dezembro 11, 2012

Morreu o coronel Ramiro Bastos.

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 161

O Diário de Ilhéus, tarjado de negro, fazia o elogio do coronel: «Nesta hora de luto e dor cessam todas as divergências. O coronel Ramiro Bastos foi um grande homem de Ilhéus.

A ele devem a cidade, o município e a região muito do que possuem. O progresso de que hoje nos orgulhamos e pelo qual nos batemos sem Ramiro Bastos não existia».

Na mesma página, entre muitos outros avisos fúnebres – da família, da Intendência, da Associação Comercial, da Confraria de São Jorge, da família Amâncio Leal, da Estrada de Ferro Ilhéus - Conquista, lia-se um do Partido Democrático da Baía (Secção de Ilhéus), convidando todos os seus correligionários a comparecer ao enterro do «inesquecível homem público, adversário leal e cidadão exemplar». Assinavam Raimundo Mendes Falcão, Clóvis Costa, Manuel Baptista de Oliveira, Pelópidas de Assunção d’Ávila e o coronel Artur Ribeiro.

Alfredo Bastos e Amâncio Leal recebiam na sala das cadeiras de alto espaldar onde repousava o corpo, os pêsames de uma multidão a desfilar por toda a manhã e à tarde.

Tonico fora avisado por telegrama. Ao meio-dia, acompanhado de enorme coroa, Mundinho Falcão entrou na casa, abraçou Alfredo, apertou, comovido, a mão de Amâncio.

Jerusa parada junto ao caixão, orvalhada de lágrimas a sua face de madre-pérola. Mundinho aproximou-se, ela levantou os olhos, rebentou em soluços, fugiu da sala.

Às três horas da tarde já não cabia ninguém dentro da casa. A rua, até às vizinhanças do Clube Progresso e da Intendência estava cheia de gente. Viera Ilhéus em peso, um trem especial e três marinetes de Itabuna.

Altino Brandão chegou de Rio do Braço, disse a Amâncio:

 - Foi melhor assim, vosmicê não acha? Morreu antes de perder, morreu mandando como ele gostava. Era homem de opinião, dos antigos. O último que havia.

O Bispo, acompanhado de todos os padres. A Irmã Superior do Colégio das Freiras com as freiras e as alunas formadas na rua, esperando a saída do enterro. Enoch, com todos os professores e alunos do seu Ginásio. Os professores e alunos do Grupo Escolar, os meninos do Colégio de Dª Guilhermina e dos demais colégios particulares.

A Confraria de São Jorge, o Dr. Maurício vestido com a bata vermelha. O Mister vestido de preto, o comprido sueco da navegação, o casal de gregos. Exportadores, comerciantes, fazendeiros (o comércio serrara suas portas em sinal de luto) e gente do povo descida dos morros, vinda de Pontal e da Ilha das Cobras.

Com dificuldade, acompanhada de Dª Arminda, Gabriela abriu caminho até à sala repleta de coroas e de gente. Conseguiu aproximar-se do caixão, suspendeu o lenço de seda a cobrir o rosto do morto, fitou-o um instante. Depois, debruçou-se sobre a mão branca de cera e a beijou.

No dia da inauguração do presépio das irmãs Dos Reis, o coronel fora gentil com ela. Na vista da cunhada, do cunhado doutor. Abraçou Jerusa, a moça prendeu-se em seu pescoço a chorar. Chorava também Gabriela, muita gente soluçava na sala. Os sinos de todas as Igrejas dobravam a finados.

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