sexta-feira, dezembro 07, 2012

Oxalá não caia...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 158


Nos bares, na papelaria, na Papelaria Modelo, Nas conversas na banca do peixe, dividiam-se as posições. Alguns afirmavam que o governo continuaria a prestigiar Ramiro Bastos, só reconheceria os seus candidatos, mesmo se eles fossem derrotados.

Não era o velho coronel um dos sustentáculos da situação estadual, não a apoiara em momentos difíceis? Outros achavam que o Governo ficaria com quem vencesse na boca das urnas. Estava o governador no fim do período. O novo mandatário precisaria de apoio para administrar.

Se Mundinho ganhasse, diziam eles, o novo Governador os reconheceria, assim contaria com Ilhéus e Itabuna. Os Bastos já não valiam mais nada, eram um bagaço, só serviam para jogar fora.

Terceiros pensavam que o Governo trataria de agradar às duas partes. Não reconheceria Mundinho, deixando que o médico do Rio continuasse a mamar o subsídio de deputado federal. Na Câmara Estadual manteria Alfredo Bastos. Em troca reconheceria o Capitão, de cuja vitória ninguém duvidava.

O Intendente de Itabuna seria, é claro, o candidato de Aristóteles, um seu compadre, pra que ele continuasse a administrar. Por outro lado, previam, o Governo ofereceria a Mundinho a vaga de senador estadual a abrir-se quando Ramiro morresse. Afinal, o velho, já festejara oitenta anos e três anos.

 - Esse vai aos cem…

 - Vai mesmo. Essa vaga de senador, Mundinho vai ter de esperar muito tempo…

Assim, o Governo ficaria bem com uns e com outros, reforçaria no Sul do Estado.

 - Vai é ficar mal com os dois lados…

Enquanto a população conjecturava e discutia, os candidatos das duas facções se desdobravam. Visitas, viagens, baptizados em profusão, presentes, comícios, discursos. Não se passava Domingo sem comício em Ilhéus, em Ilhéus, em Itabuna, aos povoados.

O Capitão já pronunciara mais de cinquenta discursos. Andava de garganta rebentada, afónico, a repetir tiradas retumbantes. A prometer mundos e fundos, grandes reformas em Ilhéus, estradas, melhoramentos, para completar a obra iniciada por seu pai, o inesquecível Cazuza de Oliveira.

O Dr. Maurício não o fazia por menos. Enquanto o Capitão falava na Praça Seabra, ele citava a Bíblia na Praça Rui Barbosa. João Fulgêncio afirmava:

 - Já sei todo o Velho Testamento de cor. De tanto ouvir discursos de Maurício. Se ele ganhar, filhos meus, tornará a leitura da Bíblia obrigatória, em coro, diariamente em Praça Pública, puxada pelo padre Cecílio.

Quem vai sofrer mais é o padre Basílio. Tudo o que ele sabe da Bíblia é que o Senhor disse: «Crescei e multiplicai-vos»

Mas enquanto o Capitão e o Dr. Maurício Caíres, rediziam-se à cidade e aos povoados e vilas do município, Mundinho, Alfredo e Ezequiel viajavam para Itabuna, Ferradas, Macuco, correndo a zona do cacau, pois dependiam dos votos de toda a região.

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