sexta-feira, janeiro 11, 2013

A Fotografia da despedida...

GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 187 e último.

Foi depois da sesta. Antes da hora do aperitivo da tarde, naquele tempo vazio entre as três e as quatro e meia. Quando Nacib aproveitava para fazer as contas da caixa, separar o dinheiro, calcular os lucros. Foi quando Gabriela, terminado serviço, partia para casa. O marinheiro sueco, um loiro de quase dois metros, entrou no bar, soltou um bafo pesado de álcool na cara de Nacib e apontou com o dedo as garrafas de «Cana de Ilhéus».

Um olhar suplicante, umas palavras em língua impossível. Já cumprira Nacib, na véspera, seu dever de cidadão, servira cachaça de graça aos marinheiros.

Passou o dedo indicador no polegar, a perguntar pelo dinheiro. Vasculhou os bolsos, o loiro sueco, nem sinal de dinheiro. Mas descobriu um broche engraçado, uma sereia dourada. No balcão colocou a nórdica mãe-d’água, Iemanjá de Estocolmo.

Os olhos do árabe fitavam Gabriela a dobrar a esquina, por detrás da Igreja. Mirou a sereia, seu rabo de peixe. Assim era a anca de Gabriela. Mulher tão de fogo no mundo não havia, com aquele calor, aquela ternura, aqueles suspiros, aquele langor. Quanto mais dormia com ela, mais tinha vontade.

Parecia feita de canto e dança, de sol e luar, era de cravo e canela. Tomou da garrafa de cachaça encheu um copo grosso de vidro, o marinheiro suspendeu o braço, saudou em sueco, emborcou em dois tragos, cuspiu. Nacib guardou no bolso a sereia dourada, sorrindo.

Gabriela riria contente, diria a gemer: «Precisava não, moço bonito…».

E aqui termina a história de Nacib e Gabriela quando renasce a chama do amor de uma brasa dormida nas cinzas do peito.




Do « Post- Scriptum»

Algum tempo depois, o coronel Jesuíno Mendonça foi levado a júri acusado de haver morto a tiros sua esposa, Dª Sinhàzinha Guedes Mendonça e o cirurgião dentista Osmundo Pimentel por questões de ciúmes.

Vinte e oito horas duraram os debates, agitados, por vezes sarcásticos e violentos. Houve réplica e tréplica. Dr. Maurício Caíres citou a Bíblia, recordou as escandalosas meias pretas, moral e devassidão. Esteve patético.

Dr. Ezequiel Prado, emocionante: já não era Ilhéus terra de bandidos, paraíso de assassinos. Com um gesto e um soluço, apontou o pai e a mãe de Osmundo em luto e em lágrimas. Seu tema foi a civilização e o progresso. Pela primeira vez, na história de Ilhéus, um coronel do cacau viu-se condenado à prisão por haver assassinado a mulher adúltera e o seu amante.

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