Agora jantemos juntos.... |
DO
CARNAVAL
Episódio nº 7
Paulo Rigger ficou a olhar o deputado, na rua, a cumprimentar para os lados numa pose de dono do mundo e da felicidade.
José Augusto explicava:
- Aqui lo
era um imbecil… Fazia política porque casara com a filha de um sujeito de
grande influência. Era apenas o genro do senhor Fulano. Em paga disso deixava a
mulher fazer o que bem entendesse… E ela não valia nada. Uma falta de vergonha.
- Os deputados são todos assim?
- Todos. Uma corja. Uns ladrões… Não têm o
verdadeiro patriotismo. É um “venha a mim” horrível. O que o Brasil precisa é
de uma revolução. Fui sempre revolucionário. A revolução cortaria a cabeça a um
grande número de políticos, pagaria a dívida externa e o país entraria no
caminho da prosperidade…
- Mas, ao que me parece, os políticos da
oposição são iguais a estes.
- Psiu! São iguais! Mas eu já sei quem será
Ministro do Exterior: um velho amigo meu… E eu terei, com certeza, uma Legação.
Ah, terei! Revolução, Revolução… Leu o discurso do líder oposicionista, hoje,
nos jornais? “Ainda há brasileiros que sabem morrer pela liberdade da Pátria”.
Parece até Rui… Eu sou destes brasileiros…
- Pois eu acho tolo morrer pela liberdade…
Tolíssimo…
- É que o senhor não é patriota… Morrer pela
Pátria e pela… Legação.
Riu cinicamente. Paulo
Rigger riu também, murmurando:
- Egoísmos, deus do mundo, deus do mundo…
Garotos passavam,
apregoando os jornais da tarde: … “Diário”, “A Noite”, olha o “Globo”. “O
discurso do deputado Francisco Ribeiro. A campanha presidencial. O Carnaval que
vem aí… O Carnaval… Noite…”
Na rua a multidão
acotovelava-se numa grande alegria. Entulhava as casas de negócios comprando
fazendas e enfeites. Era o Carnaval que se aproximava.
Rigger disse:
- O Brasil é o País do Carnaval.
José Augusto acrescentou:
- E dos grandes homens! E dos grandes homens…
Sorriu patrioticamente,
pagou a despesa e despediu-se para ir dar ao deputado Francisco Ribeiro, que
passava na ocasião, os seus parabéns pelo “notável discurso”.
- País dos grandes homens… dos grandes homens…
e do Carnaval…
No hall do hotel, Paulo
Rigger teve uma surpresa. Julie lá estava, lendo uma revista. Quis passar
rápido sem cumprimentar mas ela o viu. Chamou-o.
- Estou muito zangada com você…
- Estive doente. Passei mal a noite… Não foi
por isso. Desculpe-me.
- Desculpo-o, mas aviso-lhe que não acredito.
Agora jantemos juntos…
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