terça-feira, janeiro 01, 2013


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 178


Tudo pronto, mantimentos comprados, cabrochas contratadas e treinadas por Fernand, dois garçons a postos, convites feitos para o almoço solene. Vinha gente de Itabuna, inclusive Aristóteles, de Água Preta, de Pirangi, vinha Altino Brandão de Rio do Braço.

Onde encontrar cozinheiras para substituir o desaparecido? Sim, porque nem mesmo a sergipana podia contar. Fora-se embora, brigada com Fernand, largando o quartinho dos fundos numa imundície medonha. Com as cabrochas ajudantes?

Só se quisesse fechar no dia seguinte. Para cozinharem de verdade não serviam, só para cortar carne, matar galinha, limpar as tripas, tomar conta do fogo. Onde encontrar cozinheira naquele espaço de tempo?

Tudo isso chorou no peito amigo do livreiro, no reservado do Pocker onde, ante uma garrafa de conhaque sem mistura, escondera sua agonia. Os fregueses e amigos comentavam nas mesas do bar nunca o terem visto antes tão desesperado.

Nem mesmo naqueles dias de rompimento com Gabriela. Talvez então fosse mais fundo e terrível o desespero, mas era silencioso, soturno e sombrio, enquanto agora Nacib clamava aos céus, gritava sua ruína e desmoralização.

Quando vira João Fulgêncio, arrastara-o para o reservado de pocker:

 - Estou perdido João. Que posso fazer? – Desde que o livreiro o descasara, depositara nele ilimitada confiança.

 - Calma, Nacib, busquemos uma solução.

 - Qual? – Onde vou buscar cozinheira?

As irmãs Dos Reis, não aceitam uma encomenda assim, de um dia para o outro. E mesmo que aceitassem quem ia cozinhar segunda-feira para a freguesia?

 - Eu podia lhe emprestar a Marocas por uns dias. Só que ela cozinha muito bem se minha mulher estiver ao pé dela para o tempero.

Por uns dias de que serve?

Nacib engolia o conhaque, tinha vontade de chorar.

 - Ninguém me dá solução. Cada conselho mais sem pés nem cabeça. A maluca da Dª Arminda me propôs contratar Gabriela de novo. Imagine!

Levantou-se João Fulgêncio num entusiasmo:

 - Está salva a pátria, Nacib! Sabe quem é D.ª Arminda? Pois é Colombo, o do ovo e da América. Ela resolveu o problema. Veja você: a, a boa, a justa, a perfeita solução na nossa frente e nós não a víamos. Tudo resolvido, Nacib.

Nacib perguntava cauteloso e desconfiado:

 - Gabriela, Você acha? Não está brincando?

 - E porque não? Não foi já sua cozinheira? Porque não pode voltar a ser? Que tem de mais?

 - Foi minha mulher…

- Amigação, não foi? Porque o casamento era falso, você sabe… E por isso mesmo. Contratando outra vez de cozinheira, você liquida por completo esse casamento, ainda mais do que com a anulação. Não lhe parece?

 - Era uma boa lição… - reflectiu Nacib. – Voltar de cozinheira depois de ter sido a dona…

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