quinta-feira, janeiro 24, 2013

Reservara para ele as carícias que nunca vendera a ninguém... Imbecil!
O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 4

Ao jantar, a francesinha sorria-lhe. Havia no seu sorriso uma promessa enlouquecedora de volúpias incríveis. E Paulo Rigger ficou a idealizá-la nua. Devia ser linda… Aquela mulher, tão jovem e conhecedora da vida, devia ser uma requintada. E jurou conhecê-la.

Paulo Rigger aproximou-se.

 - Mademoiselle…

 - Mademoiselle, não. Julie, sim.

 - Ah Julie, você é adorável!

 - Só isso que você me diz? Isso me disseram todos aqueles rapazes que me galanteavam à pouco. Eu pensei que você tivesse qualquer coisa mais nova para me dizer…

 - Sim, tenho. Quero dizer-lhe que os seus olhos prometem coisas absurdas, mas eu conheço todas as coisas absurdas e duvido muito que você me dê qualquer coisa nova.

 - Hoje há uma hora a porta do meu camarote estará aberta… Esperá-lo-ei.


No seu camarote, Paulo Rigger pensava se devia ir ao encontro de Julie. Uma grande lassidão invadia-lhe os membros. Pensou em Julie. E teve medo dos seus olhos.

Não, não iria. Aquela mulher era capaz de se agarrar a ele como uma sarna, no Brasil. E, de mais, ela não passava de uma rameira conhecida. Uma mulher que amava por dinheiro, sem amor. Que lhe poderia dar de novo?

Prazer, ele conhecia muito. Carne… Mas o amor talvez não fosse somente carne… Talvez fosse alguma coisa mais… Essa coisa, ele não conhecia. Afirmava até que ela não existia. Existisse ou não, a francesinha não lhe poderia dar. Daria somente o sexo… E do mesmo modo de sempre. Bolas! Não iria lá…

E Julie esperou por toda a noite, nua, a sonhar volúpias incríveis. Depois, chorou de raiva, mordendo o travesseiro… Afinal, xingava-o, era um animal. Não sabia que ela reservara para ele as carícias que nunca vendera a ninguém… Imbecil!

E Paulo Rigger sonhava que tinha uma namorada romântica que lia Henri Ardel e tocava piano.

No outro dia, o grito da descoberta:

 - Terra! Terra!

Lá longe, o País do Carnaval!


II


Paulo Rigger encostado à janela do Hotel lia os jornais da manhã. Estava no Rio de Janeiro. Sentia, entretanto, que a capital da República não era Brasil. Tinha muito das grandes cidades do universo. E essas cidades não são cidades de países, são cidades do mundo. Paris, Londres, Nova York, Tóquio e Rio de Janeiro pertencem a todos os países e a todas as raças. E Paulo Rigger tinha desejos de ir bem para o interior, para o Pará e para Mato Grosso, a sentir de perto a alma desse povo que, afinal, era o seu povo. O seu povo… Não, o seu povo era aquele. Toda a sua formação francesa bradava-lhe que o seu povo estava na Europa.

Lembrava-se: em Paris os brasileiros falavam mal da sua terra. Muito mal mesmo. Ele, por contradição, sempre falara bem.

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