quinta-feira, janeiro 31, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 10


Na mesa do bar, alguns rapazes conversavam. A luz das lâmpadas eléctricas, na rua, dava chibatadas na escuridão envolvente. Pretas gordas, nas esquinas, vendiam acarajé e mingau. E nas sombras da noite a Bahia parecia uma grande ruína de uma civilização que apenas começara a florescer.

Ricardo Vaz pôs o chapéu na cabeça e convidou:

 - Pessoal, vamos dar um fora?

 - Não, temos de esperar Ticiano – protestou Jerónimo Soares.

 - Mas já são nove horas. É capaz de Pedro Ticiano não vir. Ele já está ficando cansado…

 - Mas, pelos amigos ainda se faz um sacrifício! – disse uma voz atrás de Ricardo.

 - Oh! Ticiano! Você… Veio somente me desmentir.

Jerónimo bateu na mesa chamando a garçonete.

 - Traz café, meu amor…

 - E água. Um copo d’água… - pediu o Gomes, director de uma revista de cavação.

Pedro Ticiano tomou um livro que Jerónimo segurava.

 - Ó rapaz! Agora é que você está lendo José Alencar?

 - Relendo, Ticiano. Eu gosto muito de Alencar…

 - É bom poeta… Bom poeta…

 - Poeta?...

 - Sim, poeta. Iracema é um poema de grande sonoridade. Mas Alencar é um mau romancista…

Ricardo Braz discordou. Achava que Alencar tinha qualidades. Não era, talvez grande romancista, mas lia-se.

Romancista de garoto de Colégio interno e de imbecis que se honram de ter sangue índio…

Nesse momento, entrou José Lopes, acompanhado por dois homens.

Ticiano, quero apresentar-lhe o dr. José Augusto, primeiro Secretário da Embaixada em Paris. Este é que é o Pedro Ticiano.

 - Prazer…

 - Conhecia-o de nome… O Sr. deixou nome no Rio…

 - Bondade…

Ticiano detestava as apresentações. Dizia não saber de coisa mais hipócrita.

 - O Dr. Rigger, advogado.

 - Pedro Ticiano, jornalista à margem da imprensa…

Apertaram-se as mãos.

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