O JACKPOT DA VIDA
Repare-se bem, muitos milhares de
milhões de uma pequena célula, cada uma diferente de todas as outras, que eram
pertença do meu pai, escolhida em função de um processo competitivo no momento
da fecundação com um dos muitos óvulos que aleatoriamente estava disponível
nesse dia e nesse momento, determinou o meu nascimento numa
probabilidade que desafia quase o infinito.
Richard Dawkins, grande especialista
do genoma humano, afirmou que as pessoas potenciais permitidas pelo nosso ADN que
poderiam estar aqui no nosso lugar
mas que na verdade nunca verão a luz do dia excedem em número os grãos de areia
do deserto do Saara.
E não é que eu tinha a sensação que
era o filho óbvio dos meus pais? E não é isso que sente qualquer um de nós?
Agora que penso nisto quase estremeço
ao imaginar a multidão de irmãos meus que ficaram por nascer e me “deram” o seu
lugar para que possa estar aqui a
escrever para vós.
Eu julgava que sorte... sorte, era
acertar na “chave” do Euromilhões num daqueles concursos com um Super Jackpot e
afinal eu próprio, cada um de nós, é um autêntico Jackpot.
Chegamos à vida contra todas as
probabilidades oriundos de um mundo de silêncio e de nada e depois de uma
existência fugaz, que metaforicamente podemos equi parar
a um pestanejar de olhos, regressamos a ele e, no entanto, esse momento fugaz é
tudo quanto nós temos.
E sendo tudo é ainda muito mais do
que aqui lo que nós valorizamos
quando olhamos à nossa volta e nos apercebemos do que muitas pessoas fazem às
suas próprias vidas e à vida dos seus semelhantes: crime e desperdício!
Não há crença ou religião que não
aponte para outras vidas numa estratégia óbvia de condicionarem e influenciarem
as pessoas a adoptarem determinados comportamentos e atitudes, normalmente de
disciplina e submissão, embora tudo à nossa volta nos mostre à evidencia que
após a morte a vida continua, é certo, mas através de novos personagens que não
os anteriores recauchutados.
A vida é um bem precioso e é precioso
porque é bela, rara, única, irrepetível e embora os sete mil milhões de
semelhantes nossos que habitam o planeta nos possam dar uma ideia contrária o
que é este número comparado com o dos grãos de areia do deserto do Saara?
Vamos morrer e por isso somos nós os
bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer porque nunca
vai chegar a nascer.
É muito importante pensar a vida, a
nossa vida, como aquela oportunidade que nos surgiu de entre muitos milhões de
oportunidades que podiam ter acontecido a outros no nosso lugar e se assim
conseguirmos pensar, até porque é essa a realidade, olhar-nos-emos e aos nossos
companheiros de “viagem” com outros olhos, com mais atenção e mais sentido de
responsabilidade.
No fundo, todos buscamos a Felicidade
que é aquela “coisa” que nem sequer sabemos bem o que é.
Sabemos, acima de tudo, que queremos
ser felizes mas não sabemos bem como nem com quem e quando o julgamos saber
muitas são as vezes em que concluímos que estávamos enganados e, normalmente,
já muito tarde porque a vida, sendo bela, única, rara e irrepetível também tem
o seu quê de perversa.
Nascemos condicionados pelos nossos
genes e pelo contexto cultural que encontramos e por muito que nos emancipemos
através de uma formação científica sólida e diversificada, é na gestão que
fazemos daqueles dois grandes factores que as nossas vidas se resolvem.
Em última análise, são aspectos
emotivos da nossa própria natureza que irão determinar o sucesso das nossas
vidas em termos de felicidade e por isso a necessidade de apelar à inteligência
para orientarmos a nossa sensibilidade.
Só somos seres superiores porque
temos a capacidade de sermos bons de uma forma inteligente: nem “máqui nas pensantes”nem “donzelas de lágrima ao canto
do olho”.
A razão e o sentimento têm que
“casar-se” sem que para isso haja alguma fórmula mágica a não ser, talvez, a
que se esconde algures dentro de cada um de nós…
Temos uma dívida para com o meio que
nos cerca pois não só o planeta em que vivemos é propício e “amigável” como o
próprio universo também o é.
Segundo os cálculos dos físicos,
pequeninas alterações que fossem nas leis e nas constantes da Física e o Universo ter-se-ia desenvolvido de tal modo que a vida teria sido impossível.
Mas a nossa responsabilidade não é
perante o Universo que se organizou de forma a permitir a vida, nomeadamente a
nossa, pois somos demasiado pequenos e insignificantes para assumirmos
responsabilidades perante ele.
A nossa responsabilidade é perante
nós próprios, na qualidade de única espécie verdadeiramente inteligente que ao
longo de um processo evolutivo de milhares de milhões de anos e com muitos
sobressaltos pelo caminho se conseguiu impor.
Despoletamos forças poderosas,
estamos em vésperas de construir estações orbitais com condições de lá
podermos viver. Transformamos o nosso mundo numa aldeia global, mas continuamos
com imensas dificuldades em resolver situações de simples vizinhança e convivência
em que alguns conflitos religiosos continuam a ser os de mais difícil
resolução.
...Os deuses…sempre os deuses, a
dificultarem a vida dos homens…
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