E O SEU CONDESTÁVEL (continuação)
Batalha de Valverde
Avançou o Condestável com as suas hostes
pelo caminho de Guadalupe, com a intenção de ir ao santuário de Nossa Senhora
mas chamaram-lhe a atenção de que era grande pecado pisar a terra santa com
cavalos de guerra e, por isso, ele deu meia volta para Maguazela.
Escaramuçando com o Mestre de Alcântara
passou a Vila Nova de Serena e daí a Valverde, já todo o peso do inimigo,
engrossado das gentes de Sevilha, Córdova e Jaem, se aprontava para lhe dar
batalha.
À tardinha, chegou –se um escudeiro ao
Condestável e disse-lhe:
-
Senhor, os castelhanos que nos cercam são mais bastos do que as ervas. Mais vos
digo que já levaram uma parte do gado que trazíamos na hoste…
Tratava-se de um bravo homem de armas,
que não tinha frio nos olhos, e respondeu-lhe Nuno Álvares de bom cenho:
- Afonso Pires, amigo, prouvera a Deus
que se tivessem juntado todas as forças do reino de Castela que menos golpes
cairiam no chão e maior honra seria a nossa. Quanto ao gado que nos apanharam,
deixai. A terra é deles e nos abastecerá.
Com este moral se travou a batalha de
Valverde. No preciso instante dos exércitos acometerem um contra o outro, o
Condestável ajoelhou à vista de todos os seus homens, na terra nua, à borda do
arraial.
Aí permaneceu um grande bocado, choviam
em volta dele como saraiva, as setas do inimigo. Gritavam-lhe que saísse dali.
Não ouvia ninguém. Estava como em
levitação, fora do Mundo. Viram-no afinal erguer-se com semblante iluminado,
cavalgar no corcel que lhe ofereceu o pagem e chamar o alferes da bandeira.
Depois, fazendo sinal à sua gente com a
espada, arremessou na vanguarda de todos contra os castelhanos. Atrás deles,
galvanizados, os cavaleiros, de seguida, os soldados a pé, lançaram-se todos
como uma tromba. E, subindo à carga cerrada o outeiro ocupado pelo inimigo,
atiraram com ele de escantilhão, para fora das posições.
Os que não caíram destroçaram e a
batalha acabou na debandada e perseguição. Valeu a noite aos castelhanos
acossados ainda mais por uma légua pela planície sem fim,
Dentre os caudilhos de Castela, que
baquearam para nunca mais, contava-se o Mestre de Santiago.
Quando a rainha se retirou para
Alenquer, o Mestre, com medo das responsabilidades, um tanto acovardado por ter
dado o primeiro golpe no Conde de Andeiro esteve a ponto de se passar para
Inglaterra mas em sua alma que era ambiciosa, falaram mais alto as vozes de
Álvaro Pais, antigo almoxarife do Paço, do Prior do Hospital, pai de Nuno
Álvares e de João das Regras, o novo chanceler.
Percebendo-lhe a indecisão, na tibieza
de se sobrepor aos acontecimentos, disse-lhe a velha raposa que era Álvaro
Pais:
-
Senhor, se quereis ouvir o conselho de um tolo, não arredeis pé daqui . Estais à beira do trono. Se largardes, quando é
que vos vereis chegar onde estais agora?
Mandai mas é pedir gente a João de
Gaunt, Duque de Lencastre, que tem lá os melhores archeiros do mundo, com a
isca de que o ajudareis a cobrar o trono de Castela.
(continua)
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