segunda-feira, fevereiro 25, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 31


Paulo Rigger saíu do cinema com a alma a transbordar de felicidade. Dava-lhe vontade de gritar com todas as forças dos seus pulmões: “Eureca! Encontrei a Felicidade” Seguiu Maria de Lourdes até a casa. Subiu a Ladeira do Pelourinho tão abstracto que nem sentiu as pedras soltas do calçamento colonial.

O grupo onde ia Maria de Lourdes parou em frente do alto casarão. Dava ideia de um caixão aquele sobrado. No patamar da escada, a escuridão dominava triunfante. Não penetrava ali um raio de luz.

Na porta, umas senhoras que moravam perto despediam-se. Rigger, de fronte, fumava um cigarro, fitando Lourdes num olhar muito lânguido, húmida de amor.

Ela, muito elegante, numa deliciosa fascinação de conjunto, olhava-o às vezes, ás pressas, enleada. Quando as senhoras se foram, Dª Helena, sonolenta, propôs.

 - Vamos subir?

Subiram. Antes de ingressar na treva Maria de Lourdes acariciou com o seu olhar nevoento a alegria nascente de Paulo Rigger.

Ficou quase meia hora à espera que ela aparecesse em qualquer das janelas dos três andares. Não sabia que aquele sótão triste não tinha janelas para a rua. Apenas uma porta sobre a escada imunda…

Desanimou, por fim. E subiu a escada cantarolando…

Os amigos, à excepção de Pedro Ticiano, cujos olhos já não enfrentavam as trevas da noite, estavam no bar do costume. Escutavam Jerónimo Soares que contava a história muito interessante de um crítico literário que fora surpreendido recebendo dinheiro de um pretendente a intelectual para elogiar o seu livro de versos a aparecer por aqueles dias.

Rigger, que nadava num mar de alegria, revelou uma bondade até então desconhecida nele:

 - Ora, a gente não deve ligar para isso. Deve desculpar. Perdoar… Deve-se mesmo perdoar sempre na vida. Os homens superiores devem amar-se uns aos outros…

 - E principalmente uns às outras – riu vitorioso o Gomes.

 - Deixe-se de trocadilhos idiotas, rapaz… Você dizia, Rigger…

 - Que nós devemos nos amar uns aos outros. E que nós devemos ter uma grande indiferença pelos outros homens, que não são nem podem ser iguais a nós… Devemos perdoá-los sempre…

Nada do que eles façam de tolo, de ridículo nos deve causar surpresa… Eles são inferiores. Não sabem o que fazem…

 - Parabéns, Messias!

 - Eu não sabia que você tinha tão grande coração…

José Lopes concordava com Rigger. Ricardo e Jerónimo consideravam aquilo mais uma blague de Paulo.

 - A gente não deve perdoar a imbecilidade. Não deve nem pode… Então eu hei-de perdoar a burrice crassa daqueles muitos que publicam uma revista que é uma afronta à gramática e às boas letras do país? – interrogava Ricardo Braz.

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