D. JOÃO I DE PORTUGAL
E O SEU CONDESTÁVEL
(continuação)
(continuação)
A batalha terminou com o
desbarato dos castelhanos, já o sol mergulhava no ocaso. Fugia o rei fanfarrão
e seus pares denodados. Faziam-se prisioneiros aos cardumes.
Ao anoitecer o campo de
batalha, com mortos e feridos, sombras rastejantes, vultos gemedores, gatunos e
heróis, era uma feira louca e encapelada. Só então o Condestável se lembrou que
todo o santo dia não tinha provado sequer um bocado de pão.
O Mestre mandou-lhe a ceia,
que ele achou tão saborosa que teve o seu paladar por um pecado.
Dali em diante a vida de
Nuno Álvares é um jardim florido de singularidades maravilhosas.
Com o título de Conde de
Ourém, que Condestável já o era, regressado à sua tão querida comarca do
Alentejo, decidiu entrar por Castela dentro para tirar desforra dos estragos e
depredações que tinham por costume vir fazer na terra portuguesa.
Um dia, chegou-lhe um
parlamentar da parte do inimigo com trombeta e um feixe de varas no braço. Nuno
Álvares recebeu-o sentado e ele, de joelhos, começou a desatar o molho das
varas, falando assim:
- Senhor Condestável, o Mestre Santiago, D.
Pedro Moniz, meu senhor, sabendo que entraste nas suas terras para as pilhar e
calcar, vos desafia e manda esta vara…
- Pois bem - vindo sejas com
tais novas, respondeu-lhe o Condestável.
- Senhor, tornou o arauto – o Conde de Nebra,
D. João Afonso Gusmão, ouvindo dizer que percorreste as terras de El - Rei, seu amo, roubando e devastando, vos
desafia e manda esta vara…
O Condestável aceitou-a com
um aceno de entendimento.
- Senhor – tornou o arauto – o Mestre de
Calatrava, D, Gonçalo Nunes de Gusmão, sabedor dos estragos e malfeitorias que
andaste praticando em terras de El – Rei, seu amo te desafia e manda esta vara…
E assim sucessivamente, à
conta de D. Martim Enes, Mestre de Alcântara, de Pedro Ponce de Leão, senhor de
Marchena, do Conde de Medina Celi, etc, etc… Tudo fidalguias da Estremadura, de
Andaluz e da Mancha de Aragão que o desafiavam mandando cada um uma vara.
Acabada a entrega das varas
do molho, disse-lhe o Condestável com aspecto risonho:
- Amigo, muito folgo com as novas que me
trazeis, que não podiam ser melhores, salvo se fosse o próprio rei a enviar-me
o repto.
E, assim, vos peço para
dizeres em particular ao Mestre de Santiago que muito me satisfez receber o
desafio e que lhe agradeço as varas que assim não terei trabalho de as mandar
por outros para os fustigar.
E despediu o mensageiro,
ordenando que lhe dessem cem dobras como alvíssaras do bom recado.
(continua)
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