segunda-feira, fevereiro 25, 2013


MESTRE DE AVIS –
D. JOÃO I DE PORTUGAL
E O SEU CONDESTÁVEL
(continuação)


A batalha terminou com o desbarato dos castelhanos, já o sol mergulhava no ocaso. Fugia o rei fanfarrão e seus pares denodados. Faziam-se prisioneiros aos cardumes.

Ao anoitecer o campo de batalha, com mortos e feridos, sombras rastejantes, vultos gemedores, gatunos e heróis, era uma feira louca e encapelada. Só então o Condestável se lembrou que todo o santo dia não tinha provado sequer um bocado de pão.

O Mestre mandou-lhe a ceia, que ele achou tão saborosa que teve o seu paladar por um pecado.

Dali em diante a vida de Nuno Álvares é um jardim florido de singularidades maravilhosas.

Com o título de Conde de Ourém, que Condestável já o era, regressado à sua tão querida comarca do Alentejo, decidiu entrar por Castela dentro para tirar desforra dos estragos e depredações que tinham por costume vir fazer na terra portuguesa.

Um dia, chegou-lhe um parlamentar da parte do inimigo com trombeta e um feixe de varas no braço. Nuno Álvares recebeu-o sentado e ele, de joelhos, começou a desatar o molho das varas, falando assim:

 - Senhor Condestável, o Mestre Santiago, D. Pedro Moniz, meu senhor, sabendo que entraste nas suas terras para as pilhar e calcar, vos desafia e manda esta vara…

- Pois bem - vindo sejas com tais novas, respondeu-lhe o Condestável.

 - Senhor, tornou o arauto – o Conde de Nebra, D. João Afonso Gusmão, ouvindo dizer que percorreste as terras de El -  Rei, seu amo, roubando e devastando, vos desafia e manda esta vara…

O Condestável aceitou-a com um aceno de entendimento.

 - Senhor – tornou o arauto – o Mestre de Calatrava, D, Gonçalo Nunes de Gusmão, sabedor dos estragos e malfeitorias que andaste praticando em terras de El – Rei, seu amo te desafia e manda esta vara…

E assim sucessivamente, à conta de D. Martim Enes, Mestre de Alcântara, de Pedro Ponce de Leão, senhor de Marchena, do Conde de Medina Celi, etc, etc… Tudo fidalguias da Estremadura, de Andaluz e da Mancha de Aragão que o desafiavam mandando cada um uma vara.

Acabada a entrega das varas do molho, disse-lhe o Condestável com aspecto risonho:

 - Amigo, muito folgo com as novas que me trazeis, que não podiam ser melhores, salvo se fosse o próprio rei a enviar-me o repto.

E, assim, vos peço para dizeres em particular ao Mestre de Santiago que muito me satisfez receber o desafio e que lhe agradeço as varas que assim não terei trabalho de as mandar por outros para os fustigar.

E despediu o mensageiro, ordenando que lhe dessem cem dobras como alvíssaras do bom recado.
 (continua)

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