Será o Poder um Fardo ou um Afrodisíaco?
É sempre a mesma coisa, logo que tentam retirar poder a quem o tem, muito ou pouco tanto faz, aí temos a reacção de desagrado, a manifestação de que estão a roubar qualquer coisa que é nosso e de que, se isso acontecer, o mundo vai ficar muito pior.
O novo Estatuto Político Administrativo para a Região dos Açores que foi aprovado por unanimidade pela Assembleia da República, impõe-lhe uma diminuição dos seus poderes uma vez que terá de passar a ouvir, para poder dissolver a Assembleia Legislativa dos Açores, para além do Conselho de Estado e os partidos nele representados, o Presidente do Governo Regional e a própria Assembleia Legislativa.
Se isso está certo ou errado, se está ou não de acordo cm a Constituição, é discussão para os especialistas na matéria e comentadores políticos, o que estou a registar são as reacções, quase de pânico, quando os poderes atribuídos a alguém são posteriormente beliscados.
Ah!... que o poder é um fardo mas quando se lhe toca, aqui D’El-Rei que vem a casa a baixo.
Há uns bons anos atrás aconteceu uma situação idêntica com o Presidente Ramalho Eanes com o mesmo tipo de reacção, e mesmo o desprendido Mário Soares, é duvidoso que tenha manifestado uma sincera alegria quando da expressão “que lhe tinham aberto a porta da gaiola” quando o então Presidente Eanes o “retirou” dos poderes de Chefe do Governo.
Então, em que ficamos: é fardo ou qualquer outra coisa que se pega à pele do género de uma substância afrodisíaca?
Bertrand Russell, no seu livro “O Poder - Uma Nova Análise Social” afirmava que os principais desejos de um homem eram: o Poder e a Glória.
Na verdade, o Poder tem qualquer coisa de mágico.
Abraham Lincoln descobriu que ele era o grande revelador da alma quando disse: “quase todos os homens são capazes de suportar adversidades mas se quiser por à prova o carácter de um homem dê-lhe o poder”.
Quem é que, tendo trabalhado alguma vez numa empresa ou num Serviço do Estado, não conheceu um colega que sendo uma pessoa pacífica, alegre e bondosa, uma vez promovido a chefe, gerente ou director se transformou de repente em duro e autoritário?
Claro que não tem que ser sempre assim. James Hillman no seu livro, “Os tipos de Poder” afirma que “é possível exercer o poder empresarial de maneira eficaz, psicologicamente curativa e pessoalmente gratificante”.
A respeito do Poder vale a pena transcrever, ainda que de forma resumida, o poema de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), intitulado “Poema em Linha Recta”:
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida.
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana…
Arre, estou farto de semi -deuses!
Onde é que há gente no mundo?”
Henry Kissinger que esteve “casado” com o Poder e portanto sabia do que falava, afirmou que ele era o mais poderoso afrodisíaco e, muito provavelmente, quanto maior for o poder, mais poderosos deverão ser os seus efeitos afrodisíacos da mesma forma que se o poder corrompe o poder absoluto deverá corromper absolutamente.
Para muitos, o poder é a suprema ambição, uma forma perversa de se compararem a um deus qualquer e quando assim é, uma vez fora do poder é como se tivessem sido expulsos do Olimpo e em casos extremos não suportam essa terrível humilhação e suicidam-se.
Mas por que se diz que o poder é afrodisíaco? O que é que liga o sexo ao poder?
Uma vez uma professora, no início do ano lectivo na disciplina de química, perguntou aos alunos se eles sabiam qual era o maior órgão sexual do mundo e depois do inevitável burburinho ela própria respondeu que era o cérebro.
Realmente há um corpo que foi concebido para, entre outras coisas, seduzir mas é no cérebro que se encontra a fonte da sensualidade e falar do cérebro é falar da inteligência e uma das melhores definições para inteligência é a da capacidade para estabelecer relações.
E, chegados aqui, é fácil perceber que os homens do poder (machismos à parte), por razões óbvias, têm uma capacidade superior para estabelecer relações, basta lembrarmo-nos do que se passou entre o presidente Clinton e a Mónica.
Para além de admirar o homem, vamos também admitir que sim, ela admirou o poder que ele tinha na qualidade de Chefe do país mais poderoso do mundo.
O poder é sedutor. Homens e mulheres que talvez passassem despercebidos, sem grande sucesso para chamarem a tenção sobre si, ganham uma legião de admiradores ao exercerem postos de comando. De um momento para o outro, mágica e irresistivelmente tornam-se atraentes para muitas pessoas.
A ilusão e a fantasia opõem-se à lucidez, à consciência crítica e à capacidade para discernir e escolher. É a criança que existe em nós e não cresceu que se embasbaca com aquilo que vem de cima e por isso a infantilização do povo é um instrumento para a sua dominação.
Para muitos políticos o poder ainda guarda resquícios da época medieval e não é plenamente exercido senão tiver do outro lado da linha lindas mulheres a quem eles, na falta de competência específica, oferecem demonstrações do seu poder.
De um destes políticos conta-se aquela história picante de uma sua deslocação para visitar umas obras para o que se fez acompanhar, como era seu hábito, de uma dessas “secretárias” e, furtivamente, escondeu-se com ela num barracão de madeira que, naturalmente, não tinha isolamento acústico.
A dado momento, lisonjeado mas também preocupado com os uivos amorosos da companheira, pediu-lhe: “ Minha querida, fale baixinho”. E ela, a plenos pulmões: Baixinho! Baixinho!
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