terça-feira, fevereiro 26, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 32


- Eles não têm culpa. Não foram eles que se fizeram burros.

Jerónimo só lamentava Pedro Ticiano não estar ali para ouvir a revelação dos sentimentos bons de Paulo Rigger.

 - Mas deviam compreender a sua mediocridade e não aparecer. Eu desculpo os burros convencidos da sua nulidade. Os que pensam ser alguma coisa, não…

A opinião de José Lopes pesou no grupo.

- Eu acho que a gente não deve tratar desse pessoal… é dar valor… Para quê lembrar essa canalha? Melhor seria esquecer que eles existem…

 - E eles existem mesmo? Têm algum valor para existirem? Vivem, não existem… - apoiou o Gomes, lançando baforadas de fumaça no ar.

 - Por que é que você está hoje contente, Paulo?

 - Sei lá! Talvez, hoje, eu tenha encontrado a Felicidade…
Quem sabe se não topei hoje com o “caminho”… O “fim” talvez não esteja fora do meu alcance…

 - Você estará apaixonado, Rigger? Espantou-se José Lopes. Você é bem capaz disso. Os homens que, como você, se dizem cerebrais, são os mais sentimentais.

 - Ninguém sabe onde termina o cérebro e começa o coração…

 - Você é capaz de paixões repentinas… Olhe o seu caso com Julie. Você chegou a amar aquela mulher.

 - Desejava-a, somente.

 - Cuidado, Paulo, muito cuidado. Não vá fazer uma tolice…

Que José Lopes se deixasse disso. Afinal, não havia nada. Ele namorara no cinema uma menina bonita e romântica. Murmurara-lhe coisas sonoras aos ouvidos. Ela nem respondera. Sorrira apenas. A verdade é que aquilo lhe dava uma grande satisfação. Mas não havia nada de sério,

José Lopes, assim mesmo, recomendava cuidado. Ricardo Braz, ao contrário, aconselhava Paulo Rigger a continuar o namoro.

 - Pode ser o princípio da sua Felicidade. Ninguém tem o direito de deixá-la fugir… Eu, logo que me apareça o meu ideal, casarei. Se a senhora Felicidade passar ao alcance da minha mão, garanto que a agarrarei…

 - Nada! O amor não é finalidade da vida de ninguém. Nem o amor nem o casamento. O amor não tira a insatisfação, a inquietude de pessoa alguma. Essa inquietude é uma coisa muito mais séria. Ticiano diz bem, eu o reconheço. O problema é muito cerebral…

 - Você mudou de ideia em pouco tempo. Afirmou há dias que essa insatisfação era questão de sentimento. O mínimo do cérebro. Pois eu estou com o que você disse no outro dia, mano…

 - Um misto. Sentimento e cérebro. Mas só o cérebro resolve. Eu disse também que a gente não chega a ser feliz por causa do cérebro… O sentimento pode se satisfazer, mas o cérebro não. O amor não resolve o problema, consequentemente…

 - Resolve só as coisas naturais, humanas, podem dar alegria e felicidade à vida… Compreendeu?

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