quinta-feira, fevereiro 28, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio nº 34

Tomaram o último chope. Paulo Rigger distribuiu esmolas entre os mendigos e vagabundos que, na frente da Igreja da Sé, estendiam papéis no chão – a mais macia cama onde podiam descansar o corpo doente…

Jerónimo deu parabéns a Paulo pela caridade: - E você que sempre combateu a esmola, hein? Qualquer dia desses você irá ao Bonfim…

Depois construiu uma frase:

 - Aqueles homens sofrem a única tragédia verdadeira… A da fome…

 - Nada. A nossa é muito maior – atalhou José Lopes – A nossa fome é a fome do espírito.

Paulo Rigger sonhou com Maria de Lourdes.

Na manhã do dia seguinte sentiu um prazer imenso em brincar com os pintinhos e em dar milho às galinhas na chácara…

Tão boa a vida burguesa da família…

E se casasse? Teria um filho a quem ensinaria que a Felicidade consiste no amor…

Sentou-se na cadeira de balanço e ficou a cismar. Pensou em Maria de Lourdes, em casamento, filhos, em Pedro Ticiano.

Levantou-se.

 - Eu termino me suicidando…

Um gato coçou-se nas suas pernas. Deu-lhe um pontapé. Mas logo após, arrependido tomou-o no colo e, levando-o para uma janela contou-lhe as suas indecisões.

O gato, muito prudente, preferiu não dar conselhos… Suspendeu a cabeça aristocrática, mirou-o atentamente e lambeu as patas. Sábio e profundo gato. Lavava as mãos no caso de Paulo Rigger…


Ricardo Braz gostava de ir à missa das dez horas, na Catedral, aos domingos. Levantava-se cedo, vestia-se o mais elegantemente possível para, como lamentava José Lopes, perder a manhã.

Chegava à Igreja, a missa já por acabar. E se colocava fora da porta a admirar o desfile das moças elegantes que vinham macerar os joelhos nas lajes da igreja.

Uma vez estava a contemplar o talhe perfeito de uma senhorita, quando o puxaram pelo braço. Voltou-se.

 - Você, António?

Abraçaram-se. Era o advogado António Mendes, seu companheiro de turma, rapaz rico e social que conhecia meio mundo.

- António, você que conhece essas moças todas, sabe quem seria aquela ali de preto?

 - Sei, sim. Uma moça pobre… quero dizer que não é rica. Mas muito elegante. Você quer uma apresentação?

 - Quero, sim

Caminharam até onde estava a senhorita – muito bem vestida, pálida, olhos semicerrados, preguiçosos. Não chegava a ser bonita. Muito simpática, apenas.

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