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CHIPRE |
E se um dia a Gazprom
comprasse Portugal?
«Então chegámos ao ponto
em que uma empresa se propõe comprar um país da União Europeia. Não se trata de
comprar uma ilha das Caraíbas pintalgada por palhotas folclóricas. Trata-se da
aquisição, a preço de saldo, de um
pequeno Estado, é certo, mas que é membro da, ó mito, poderosa Zona Euro... É
revolucionário!
A russa Gazprom (onde, discretos, florescem seis por cento de capitais
alemães) aceita ficar com a dívida de Chipre se, em troca, lhe concederem o
direito de explorar livremente o gás natural da região. O negócio pode fazer-se
por dez mil milhões de euros, o que, admite-se, para as contas da 15.ª maior
companhia do mundo será pouco mais do que uma bagatela.
A intenção surge na sequência da decisão dos ministros das Finanças do euro
de cobrar uma taxa sobre o dinheiro que está depositado nos bancos de Chipre.
Segundo li em vários jornais económicos, nada suspeitos de simpatias
coletivistas ou de tendências esquerdistas, "este ato de terrorismo de Estado"
(sic) é já candidato a medida política mais estúpida do século.
Esta gente é mesmo capaz de nos roubar! Esta gente vende-nos, a nós, povos,
como vende qualquer mercadoria. Com esta gente nada podemos dar como certo, nem
sequer a segurança do dinheiro que depositamos nos bancos - um dos pilares da
arquitetura da economia capitalista.
Cito: "Todas as pessoas têm o direito de fruir da propriedade dos seus
bens legalmente adquiridos, de os
utilizar, de dispor deles e de os transmitir em vida ou por morte. Ninguém pode
ser privado da sua propriedade, excepto por razões de utilidade pública, nos
casos e condições previstos por lei e mediante justa indemnização pela
respetiva perda, em tempo útil. A utilização dos bens pode ser regulamentada
por lei na medida do necessário ao interesse geral." Este é o artigo 17.º
da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Para esta gente, que
governa o euro, este texto não existe ou, então, o seu conceito de
"interesse geral" é coisa muito, muito particular...
Esta medida desumana sobre o povo de Chipre - votada favoravelmente, sem
surpresa, sem vergonha, pelo ministro português Vítor Gaspar - tem um mérito:
revela, em toda a sua crueza, do que esta gente é capaz; faz-nos cair,
brutalmente, na pura realidade; dá-nos consciência da montanha que temos de
derrubar se um dia quisermos viver
numa sociedade com uma governação decente; lembra--nos que corremos mesmo o
risco de deixarmos de viver numa democracia, para passarmos a ser geridos, 24
horas por dia, como nos piores romances futuristas, por uma gigantesca
companhia.» [DN]
Autor:
Pedro Tadeu.
Nota - Perante uma proposta tão indigna de Bruxelas, todas as alternativas podem acontecer...
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