quinta-feira, março 07, 2013


D. SEBASTIÃO
E A SUA CRUZADA A
ALCÁCER KIBIR
(continuação)



Os dois exércitos puseram-se em marcha quase ao mesmo tempo de face um para o outro e reconheceu-se logo a superioridade numérica dos mouros que, convergindo em meia lua, ameaçavam só com os ginetes fechar os portugueses nas suas pontas, e ainda não se via a infantaria, a desdobrar-se por detrás das lombas do terreno.

Quando D. Sebastião mandou tocar a Ave-Maria, dispararam os mouros as suas bombardas, a última palavra em balística. O estrago não foi grande mas o alarme foi indescritível que se baralharam desde logo as fileiras da peonagem.

Esta, formada por gente das aldeias, tosca, sem o necessário traquejo de armas, enrodilhou-se uma contra a outra como um bando de ovelhas sobre que deu uma alcateia de lobos.

Entretanto a cavalaria atacava a manga dos portugueses a quem D. Sebastião dera instruções rigorosas. – “Daqui ninguém move até nova ordem”.

De modo que aventureiros e mercenários tiveram por assim dizer que aguentar a pé quedo o embate do inimigo.

Um oficial às ordens. Pedro Peixoto, recebeu entretanto esta voz do rei, louca de todo:

 - “Ide dizer a Duarte de Menezes que comece a pegar com os mouros devagar…”

 - “Não direi senão que muito depressa” – retorquiu Peixoto.

Já os portugueses iam ser envolvidos, apareceu Aldana a dizer ao príncipe.

 - “Hombre, ponha-se a salvo. Para que quer a cavalaria? Não vê que vamos morrer aqui todos!...”

 - “Diferente confiança tenho eu na graça de Deus.”

 - “Ora! Ora!

El - rei não se determinava de acometer e um dos fronteiros exclamou de voz turva , apeando-se do cavalo:

 - “sejam todos testemunhas como me apeio para morrer, porque hoje não é dia de outra coisa.

Dado que a ordem de atacar nunca mais soasse, arrojaram-se como entenderam contra o inimigo. Era fora de tempo. Pequena resistência encontravam já os mouros por toda a parte.

O Crescente, fora raros e singulares actos de bravura, levava a Cruz de roldão. À voz de Sebastião de Sá mais se atirou par o monte de inimigos:

 - “O meu cavalo não sabe voltar.”

Breve a batalha se tornou em debandada e carnificina cruel e despiedosa. Segundo os autores árabes, os portugueses tiveram 6.000 mortos, quase todos em fuga, como coelhos, e o quase restante do exército aprisionado. Os mouros teriam perdido 18 homens!

É possível tal desproporção? E o Rei? O rei ficara paralisado, como pretende Bento de Sousa no “Doutor Minerva”?

Que papel foi o seu que nunca mais ninguém o enxergou na batalha? Um seu antigo criado da câmara, Fernando Góis de Loureiro, abade que foi de São Martinho de Soalhães, que assistiu à batalha, no livro que compôs, editado em Mântua:

“Breve suma y relacion de ias vidas e hechos de los Reys de Portugal”, narra deste jeito o destino do príncipe:
(continua)

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