quarta-feira, março 06, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 39


Maria de Lourdes acordou a cantar. A sua voz ressoava, fresca, por todo o sótão. Encostou a cabeça á janelinha que do seu quarto se abria sobre o telhado vizinho. Na janela do quarto andar, um rapaz lia atento.

Reconheceu-o.

Lourdinha! Não lhe disse que ia fazer-lhe uma surpresa?

Aluguei um quarto aqui, para estar mais perto de você…

À noite, ela veio até à escada falar com ele. A escuridão mandava ali. Ele beijou-a muito. A sua mão resvalou por baixo da blusa e encontrou um seio. Ela deixava, pálida.

Apertaram-se…

 - Paulo…

 - Minha Lourdinha…

E a vida foi correndo assim. O quarteirão todo só falava no namoro escandaloso do moço rico com Maria de Lourdes.

Georgina garantia que, na escada, presenciava “sem vergonhices” sem conta. E contava às amigas coisas espantosas.

 - Como sabia?

Espiavam, ela e as outras, por detrás da porta do sótão. Ele chegava, sentava-a ao colo. Beijava-a. Amassava-lhe os seios. Não sabia em como ela ainda era moça…

 - Falta de lugar… rosnava Helena – Essas sonsas… Essas sonsas…

Maria de Lourdes não dava ouvidos a essas coisas. A madrinha, tão pouco.

Paulo Rigger, para fechar a boca do mundo, pediu Maria de Lourdes em casamento.

Ela, vingativa, ofereceu um chocolate aos moradores do sótão. E gozava os parabéns invejosos.

Mas à noite, quando foi deitar, a madrinha ouviu que chorava muito. Não lhe perguntou o que fosse. Felicidade, naturalmente.

 Mas só Maria de Lourdes sabia por que chorava! Não tivera coragem de dizer ao noivo “aquela coisa” que a torturava…


A fita de cinema da vida de Maria de Lourdes deu reprise em sessão especial parta ela própria. E ficou vendo aquele tempo em que namorou Osvaldo. Não completara ainda quinze anos.

Uma garota que só tinha da vida a noção errada dos bancos colegiais. Osvaldo entrara nos seus dezoito anos e com eles entrara pela primeira vez na casa de uma rameira. Aprendeu o que era Carne.

Mas aprendeu às pressas, sem reflectir. E seu noivado (um noivado de criança) com Maria de Lourdes começou a tomar outro aspecto. Ela toda ingenuidade, entregava-se-lhe.

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