Filipe Pinhal
Este senhor reformou-se do Conselho de Administração do BCP com uma reforma bruta mensal de 70.000 euros e hoje, na situação de austeridade em que vivemos, o fisco atirou-se a ela como “gato a bofe” e já só recebe 14.000 euros.
Vai daí, resolveu dar a cara, que nós já
conhecíamos dos jornais e ecrãs da televisão porque ficou à frente do Banco depois
da retirada do seu fundador e mentor, Jardim Gonçalves, por uma Comissão de
Reformados e Indignados e, nesta qualidade, apareceu novamente na televisão.
Quando o vi, julguei que a notícia
estava truncada porque a imagem de um reformado da Presidência daquele que foi
o maior Banco privado português não bate certo com os indignados deste país.
Continua a ter um “fácies” apagado, de
pessoa sem qualquer rasgo, que deve ter subido na carreira e na vida por ter
sido sempre alguém que concordava e apoiava os chefes, alguém da confiança
deles.
Mas esta falta de rasgo, que se percebe,
levou-o agora a cometer um erro de avaliação grave da situação do seu país fora
do qual, muito provavelmente, sempre viveu.
Ao contrário do olhar de lince do seu
“patrão”, Jardim Gonçalves, - que recebe 167.650.70 de pensão mensal, desde
Dezembro de 2007, através do Fundo de Pensões do Banco e por via de um contrato
de seguros negociado com a seguradora Ocidental e que diz não custar um euro ao
Estado - Filipe Pinhal só deve ver as
coisas pequeninas como algarismos de um balanço de Banco ou de uma qualquer
outra empresa, mas não do mundo em que esse Banco e essas empresas vivem. É
capaz de ver as árvores à sua frente mas não a floresta.
Claro que caiu no ridículo e foi objecto
de troça dos analistas e comentadores, mesmo quando eles estavam de acordo que
uma tal percentagem de desconto na reforma de alguém assume foros de quase
espoliação.
Estamos num país “em guerra” contra o
desemprego, a fome, a miséria e a debandada e, pior ainda, estamos a perder
essa guerra para desespero de todos nós e, principalmente, dos mais atingidos de
todos e dos outros, também, porque o barco é o mesmo.
O Sr. Filipe Pinhal, que foi responsável
máximo de um Banco cujas acções passaram de 4 euros para os actuais cerca de 6
cêntimos, que teve de despedir centenas de trabalhadores, encerrar agências e
receber ajudas financeiras públicas no montante de dois mil milhões de euros
para sobreviver, esquece toda essa conjuntura e o que ela representa na vida de
milhares de famílias portuguesas, para vir à televisão indignar-se perante
todos: os do salário mínimo - 485 euros - , os pensionistas que recebem pensões
mínimas de velhice e invalidez que variam entre 197.54 e 256.70, para além dos
antigos trabalhadores rurais que auferem 237.05.
Como panorama geral, temos ¾ do total
dos pensionistas do país a receberem pensões inferiores ao salário mínimo
nacional e um milhão de pessoas desempregados.
O Sr. Filipe Pinhal, numa sociedade cujo
quadro é este e que continua a empobrecer rápida e dramaticamente, tem a
desfaçatez de vir à televisão indignar-se publicamente porque a sua pensão
baixou de 70.000 para 14.000 euros mensais.
Quando se é rico, e o Sr. Filipe Pinhal é
rico em função dos chorudos ordenados e demais mordomias auferidos no
desempenho de altos cargos no Banco, para além dos prémios que a Administração
lhe atribuía no fim dos anos, tem que possuir alguma sensibilidade social.
Mesmo que se sinta frustrado e indignado
com o corte que sofreu na sua pensão guarde para si e para os seus essa
indignação. Ostentá-la em público neste momento, nesta situação, leva-nos a
pensar que o Sr. Pinhal não é muito esperto e nem os 14.000 euros merece quanto
mais os 70.000.
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