DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém)
A nossa sensibilidade está mais viva, os
nossos sentidos mais apurados, percebemos a nossa impotência, o risco que
corremos, a incapacidade do País. Discutimos entre nós os “amendoins”, as
refeições outros as decidem.
Pergunto a mim próprio se poderia ter
sido de outra maneira, se era inevitável termos caído neste “buraco”
financeiro, que arrastou o descalabro da vida económica, se outro comportamento, outras decisões dos nossos políticos não
nos teriam conduzido a praias diferentes.
Lendo José Gil, ouvindo o “senador” da
cena política deste país, o Prof. Adriano Moreira, já com 90 anos feitos, vendo
o que se passa à nossa volta, por todo este país, na vizinha Espanha, na inevitável
Grécia e agora com os espectaculares resultados das eleições em Itália onde
Monti, o homem de confiança da Alemanha e da política “séria” dos equi líbrios orçamentais e das economias nas despesas
do Estado, se afunda nuns míseros 10% de votos e dois outros candidatos, um,
velho conhecido dos italianos, que tem dado espectáculo com a sua vida privada
escandalosa e de negócios tornando-se uma das maiores fortunas italianas,
dominante em sectores estratégicos do poder, como seja o da Televisão e jornais,
completamente demagógico, e o outro que chega às eleições só para arrasar tudo
quanto é político em Itália sem acrescentar nada de construtivo, diz bem do
estado de espírito dos italianos.
O nosso filósofo é um personagem triste, os
seus pensamentos, provavelmente, marcam-no dessa forma mas o que ele expressou,
com sinceridade mesmo, foi medo, medo pelo futuro dele, dos outros e do seu
país. Tal como o Prof. Adriano Moreira, medo pelos seus filhos, netos, pelo
mundo em que eles irão viver.
Mas como foi possível?
Lembram-se, no início da década de 90
quando a explosão da actividade bancária foi tão forte, de norte a sul do país,
que nas praças centrais das nossas cidades pastelarias que eram históricas
começaram a fechar para darem lugar a agências bancárias e as acções do BCP
haviam de chegar quase aos 4 euros contra os 0,08 que valem hoje?
Começava em grande o negócio do dinheiro, que viria a correr muito bem nos vinte e tal anos seguintes: crédito barato,
febre consumista, carros, mobília, férias, especulação financeira no mundo
virtual da bolsa…
Agora, a banca despede, as agências
fecham mas, infelizmente, as pastelarias que elas ocuparam não voltaram.
Os portugueses, de raiva, mandam o
Relvas estudar, o Passos Coelho assume aquele ar grave e sério com que nos irá
comunicando, regularmente, as medidas de austeridade contestadas pelo PCP e
pelo Bloco e PS, indignados pelo sadismo revoltante do primeiro ministro que
insiste em fazer sofrer o povo.
O Prof. Universitário Viriato Soromenho
Marques continua a insistir, e com toda a razão, na teimosia com que o todo
poderoso Banco alemão impede as decisões do Banco Central Europeu que poderiam
aliviar a pressão dos mercados sobre as dívida soberanas dos países do Sul
esmagados pelas taxas de juro que lhe são cobradas numa total ausência de solidariedade política numa Europa que se diz de União.
Parece que eles, os alemães,
vivem, ainda hoje, assombrados por causa de uma inflacção que tiveram no
passado em que forraram as paredes das casas com notas de marco. Para eles, o
euro é como se fosse o seu marco de alguns anos atrás, há que defendê-lo, acima
de tudo.
Talvez eles se julguem possuidores de um
poder que na realidade não têm neste mundo de hoje, globalizado. Numa
entrevista, o Prof. Adriano Moreira deixou entender isso mesmo. Um erro de
cálculo da Alemanha relativamente ao seu próprio poder no mundo actual, fora do
quadro europeu, poderá ser um erro suicida para eles e toda a Europa.
Motivos de preocupação que justificam os
medos do filósofo, do meu antigo professor, e eu pressinto, que de todos nós.
Medo que nos retrai, que faz adiar compras que diminui ainda mais o consumo, em
suma, agrava a crise que aumenta os motivos de preocupação, que justificam os
medos do filósofo, do professor e de todos nós… num círculo vicioso que é
preciso quebrar.
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