DO
CARNAVAL
Episódio Nº 36
O “Estado da Bahia “ podia
ser considerado vitorioso… Mas fora uma vitória às avessas. Vencera pela
antipatia. Todo o mundo comprava o Estado da Bahia para ver quem levava pancada
naquele dia. Não era um jornal de escândalo. Mas falava verdade e tinha
coragem. E um jornal que fala verdade, na Bahia, diz coisas piores do que o
jornal mais infame do universo.
Se não fossem aquelas
eternas brigas entre Pedro Ticiano e A. Gomes, tudo iria admiravelmente. Mas os
dois directores tinham discussões violentas. O Gomes com a mania de enriquecer,
queria exercer uma censura sobre os artigos de Ticiano, que não a admitia de
modo algum. E brigavam horas seguidas. Gomes não concordava com os ataques a
personagens que pudessem dar dinheiro ao jornal.
- De um jornal de chantagens eu não faço parte
– declarava Ticiano.
- Não é chantagem, é política, homem! – e o
Gomes arruinava os pulmões, gritando.
José Lopes conciliava as
coisas. O artigo saía sempre um pouco mais brando. Pedro Ticiano satisfazia-se.
Gomes ainda resmungava:
- Assim nunca havemos de ganhar dinheiro…
Só pensava em ganhar
dinheiro, em ficar rico. E não o estava ficando, o canalha? Agora morava na
Avenida, fumava charutos caros e (diziam mas ninguém acreditava) já frequentava
casas de rameiras…
E sonhando, a olhar a
fumaça que desprendia do charuto, jurava que, quando “tivesse dois mil contos,
seria feliz.”
Paulo Rigger passara dias
perdidos ante aquele sobrado da Ladeira do Pelourinho. Nunca conseguira ver
Maria de Lourdes e a sua imagem começava a desaparecer do seu espírito quando,
uma tarde, descendo de automóvel, viu Maria de Lourdes que saía de casa.
Parou o carro, saltou. Ela
o olhou sorrindo.
- Pensei não a ver mais…
- E eu também. Se não fosse o acaso de o
senhor passar aqui agora… Ia para
onde?
- Para lugar nenhum. Passava de propósito para
vê-la. Tenho estado aqui dias
seguidos. Não a consegui ver ainda. Não aparece nas janelas…
- Onde eu moro não tem janelas, senhor.
- Senhor, não. Tratemo-nos por você, está
certo.
- Está. Onde eu moro não há janelas. É um
sótão. Eu sou muito pobre… E o senhor… isto é, você, parece ser muito rico.
Automóvel bonito! Nunca poderá gostar de uma moça como eu. E eu que pensei que
você fosse um empregado de comércio com quem pudesse ser feliz…
- Não diga isso… Como é mesmo seu nome?
- Maria de Lourdes Sampaio. Em casa Lourdinha. E
você como se chama?
- Paulo Rigger.
Ela interessou-se por ele.
Gostava muito dos advogados, mas não simpatizava com os jornalistas.
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