sábado, março 02, 2013


O PAÌS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 36

O “Estado da Bahia “ podia ser considerado vitorioso… Mas fora uma vitória às avessas. Vencera pela antipatia. Todo o mundo comprava o Estado da Bahia para ver quem levava pancada naquele dia. Não era um jornal de escândalo. Mas falava verdade e tinha coragem. E um jornal que fala verdade, na Bahia, diz coisas piores do que o jornal mais infame do universo.

Se não fossem aquelas eternas brigas entre Pedro Ticiano e A. Gomes, tudo iria admiravelmente. Mas os dois directores tinham discussões violentas. O Gomes com a mania de enriquecer, queria exercer uma censura sobre os artigos de Ticiano, que não a admitia de modo algum. E brigavam horas seguidas. Gomes não concordava com os ataques a personagens que pudessem dar dinheiro ao jornal.

 - De um jornal de chantagens eu não faço parte – declarava Ticiano.

 - Não é chantagem, é política, homem! – e o Gomes arruinava os pulmões, gritando.

José Lopes conciliava as coisas. O artigo saía sempre um pouco mais brando. Pedro Ticiano satisfazia-se.

Gomes ainda resmungava:

 - Assim nunca havemos de ganhar dinheiro…

Só pensava em ganhar dinheiro, em ficar rico. E não o estava ficando, o canalha? Agora morava na Avenida, fumava charutos caros e (diziam mas ninguém acreditava) já frequentava casas de rameiras…

E sonhando, a olhar a fumaça que desprendia do charuto, jurava que, quando “tivesse dois mil contos, seria feliz.”

Paulo Rigger passara dias perdidos ante aquele sobrado da Ladeira do Pelourinho. Nunca conseguira ver Maria de Lourdes e a sua imagem começava a desaparecer do seu espírito quando, uma tarde, descendo de automóvel, viu Maria de Lourdes que saía de casa.

Parou o carro, saltou. Ela o olhou sorrindo.

 - Pensei não a ver mais…

 - E eu também. Se não fosse o acaso de o senhor passar aqui agora… Ia para onde?

 - Para lugar nenhum. Passava de propósito para vê-la. Tenho estado aqui dias seguidos. Não a consegui ver ainda. Não aparece nas janelas…

 - Onde eu moro não tem janelas, senhor.

 - Senhor, não. Tratemo-nos por você, está certo.

 - Está. Onde eu moro não há janelas. É um sótão. Eu sou muito pobre… E o senhor… isto é, você, parece ser muito rico. Automóvel bonito! Nunca poderá gostar de uma moça como eu. E eu que pensei que você fosse um empregado de comércio com quem pudesse ser feliz…

 - Não diga isso… Como é mesmo seu nome?

 - Maria de Lourdes Sampaio. Em casa Lourdinha. E você como se chama?

 - Paulo Rigger.

Ela interessou-se por ele. Gostava muito dos advogados, mas não simpatizava com os jornalistas.

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