(Numa manhã chuvosa na minha cidade de Santarém)
O meu país está em guerra, eu estou em
guerra, os meus concidadãos em guerra estão. Há um desnorte das tropas, os
chefes digladiam-se entre eles… é a democracia. Estando de acordo na estratégia: aumentar a produção de riqueza e diminuir a despesa corrente do Estado,
discordam quanto à táctica:
- Onde cortar, como aumentar?
Já definiram o
inimigo mas não sabem como abatê-lo. Voluntariosos, todos querem liderar as
tropas e estas perderam a confiança nos seus chefes, não sabem quem seguir…
Em tempos, vestiram-me uma farda e
mandaram-me para a guerra. Não para defender a minha terra, a minha família, os
meus interesses. De outra coisa se tratava escondida por detrás de palavras tão
bonitas como Pátria e Honra... E nós, sem outro remédio, lá fomos e alguns mais
entusiastas levaram até na sacola os Lusíadas e a Bíblia.
Alguns deixaram lá a vida, outros
ficaram feridos para sempre e a guerra acabou inconclusiva por desistência de
uma das partes. Do outra lado, recordo Samora Machel, disseram que foi uma
vitória. Para alguns do lado de cá teria sido um empate ou derrota na
Secretaria por desistência... Talvez, vi muitas fotografias de
soldados nossos abraçados ao inimigo como é próprio dos combates nulos.
Mas essa guerra já foi há muitos anos… e
não interessa falar dela, ferem-se sensibilidades… O inimigo de ontem, hoje, dá
empregos aos desempregados do nosso país, compra-nos coisas, investe nas nossas
empresas, ou seja, ajuda-nos - não por altruísmo - a ganhar a guerra que agora travamos, aquela que é
a sério.
As verdadeiras guerras são sempre
aquelas em que nos batemos dentro das nossas fronteiras: ou contra inimigos que nos
invadem ou contra nós próprios quando nos dividimos ou ainda, como é agora o
caso, contra as adversidades resultantes de erros dos outros, de erros nossos
ou de falhas de avaliação das situações.
Por que é que governar um país é tão difícil?
- Porque não exige apenas inteligência.
Alguém duvida da inteligência de António Guterres, um dos alunos mais
brilhantes que já passou pelo Instituto Superior Técnico? E não terá ele sido
um homem sério como Sócrates o foi, Soares, ou Salazar umas gerações antes?
É que a um político pede-se-lhe, também,
para além de inteligência e seriedade, que saiba ler o futuro como se fosse
quase um adivinho.
- "Ah, pois, dizer isso agora é fácil..."
Lembram-se dos ventos da História de que falava Salazar?
Esses ventos empurravam as colónias para a independência e ele, no que julgava
ser um golpe de génio político, não fez a vontade aos ventos e não negociou com
aqueles a quem chamava de “terroristas”.
E hoje, quais serão os ventos da
história?
A maioria de nós não tem dúvidas que são
na direcção da Europa mas o processo foi capcioso, estava armadilhado por uma
moeda demasiado forte que serve os interesses da Alemanha e prejudica os nossos
cuja economia não teve tempo nem capacidade para se ajustar a uma tal moeda.
Não esqueçamos que uma moeda forte retira-nos
competitividade, dificulta a vida dos nossos exportadores que não têm Mercedes,
nem BMW (s) para vender enquanto que a uma economia forte e altamente
competitiva como a alemã, num mundo global, com os seus automóveis de marcas
consagradas e muitos outros equi pamentos
industriais, ajusta-se na íntegra.
Por alguma razão os chineses mantêm o seu yen "baixinho" resistindo a todas as pressões internacionais para que o ajustem ao que é hoje a força da sua economia.
Para complicar ainda a vida dos ventos
da Europa aparece agora um senhor, ministro das Finanças, alemão, aquele a quem
o nosso Gaspar fala ao ouvido, de memória curta, que afirma, do alto da sua
soberba, que nós, cá do Sul, ao nos queixarmos deles, o que temos é inveja…
Espero que não tenhamos de mudar de
estratégia embora o percurso esteja a ser muito violento, muito mais do que se
pensou, por culpa do próprio processo de integração e de um mundo desgovernado pelos “homens
do dinheiro” sem escrúpulos nem moral, mas também por erros nossos, alguns de
avaliação das situações e outros da "mistura criminosa” entre interesses
privados e públicos que prejudicaram o país e fizeram crescer a nossa dívida.
O momento é delicado…Venceremos a
guerra? – Vencerá a Europa a guerra?
- Continuemos a aguardar o resultado das eleições na Alemanha...
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