DO
CARNAVAL
Episódio Nº 37
Dª Helena (e Dª Helena
tinha experiência dessas coisas) dizia que os jornalistas eram muito volúveis.
Quis saber o que ele praticava mais, se advocacia ou o jornalismo.
- Para falar verdade eu
sou mais jornalista. Trabalho no jornalismo. Da advocacia não cuido. Mas sou um
jornalista diferente. Volúvel? Não. Quando gosto, gosto mesmo…
E começaram a se encontrar
todos os dias. Ele adorava a ingenuidade dela, a sua tristeza, o amor que ela
lhe tinha, aquele carinho que ela demonstrava por ele. Nunca encontrara quem o
amasse assim. E começou a crer que a Felicidade estava no amor…
A família de protestantes,
que morava no quarto andar, mudou-se. Logo no dia seguinte uma italiana alugou
todo o andar, para botar pensão.
Paulo Rigger soube.
Disse-lhe Maria de Lourdes. Ele teve uma ideia. Passeavam como de costume e
quando, de volta, pararam no patamar da escada, ele encostou-a a si.
- Querida, amanhã vou fazer-lhe uma surpresa.
Os seus rostos tocavam-se.
Beijou-a longamente.
- Oh! Paulo…
- Perdoe, noivinha…
Na escada Georgina ria,
feliz por ter pegado Maria de Lourdes numa falta. E cinco minutos depois todo o
sótão que Maria de Lourdes, em baixo, fazia diariamente “descaração” com o Dr.
Paulo, aquele rapaz do automóvel, que escrevia no jornal.
As sonsas são as piores –
sentenciou Dª Helena.
Na tristeza do seu quarto,
Dª Pombinha ouvia tudo, aflita, com uma vontade louca de desmenti-las, de
matá-las.
Quando Lourdinha subiu,
todo o sótão olhou-a com risinhos. Ela atravessou impassível.
A madrinha interrogou-a.
Mentira! Infâmia daquela Georgina! Naquele dia, ele a beijara. Mas chamara-a de
“noivinha”. Ia pedi-la. Atirou-se nos braços da madrinha, chorando.
Ricardo Braz andava
preocupado. Quase não aparecia. Abrira na própria redacção do “Estado da Bahia”
um escritório de advocacia. E passava os dias a esperar o primeiro cliente.
Queria casar, o rapaz. Amavam-se, ele e Ruth. Mas a pequenez dos vencimentos
tornava impossível pensar em casamento.
Ganhava 500$000 na Prefeitura.
Retirava 200$000 no Estado da Bahia.
Não dava para viver. E,
demais, não havia de ser um pobre funcionário público toda a vida. E o rapaz
emagrecia pensando nos meios que poderia arranjar para ganhar bem.
- Se eu tivesse a alma de ladrão do Gomes!
-
Cachorro! Vá aborrecer outro…
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