segunda-feira, março 04, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 37

Dª Helena (e Dª Helena tinha experiência dessas coisas) dizia que os jornalistas eram muito volúveis. Quis saber o que ele praticava mais, se advocacia ou o jornalismo.

- Para falar verdade eu sou mais jornalista. Trabalho no jornalismo. Da advocacia não cuido. Mas sou um jornalista diferente. Volúvel? Não. Quando gosto, gosto mesmo…

E começaram a se encontrar todos os dias. Ele adorava a ingenuidade dela, a sua tristeza, o amor que ela lhe tinha, aquele carinho que ela demonstrava por ele. Nunca encontrara quem o amasse assim. E começou a crer que a Felicidade estava no amor…


A família de protestantes, que morava no quarto andar, mudou-se. Logo no dia seguinte uma italiana alugou todo o andar, para botar pensão.

Paulo Rigger soube. Disse-lhe Maria de Lourdes. Ele teve uma ideia. Passeavam como de costume e quando, de volta, pararam no patamar da escada, ele encostou-a a si.

 - Querida, amanhã vou fazer-lhe uma surpresa.

Os seus rostos tocavam-se. Beijou-a longamente.

 - Oh! Paulo…

 - Perdoe, noivinha…

Na escada Georgina ria, feliz por ter pegado Maria de Lourdes numa falta. E cinco minutos depois todo o sótão que Maria de Lourdes, em baixo, fazia diariamente “descaração” com o Dr. Paulo, aquele rapaz do automóvel, que escrevia no jornal.

As sonsas são as piores – sentenciou Dª Helena.

Na tristeza do seu quarto, Dª Pombinha ouvia tudo, aflita, com uma vontade louca de desmenti-las, de matá-las.

Quando Lourdinha subiu, todo o sótão olhou-a com risinhos. Ela atravessou impassível.

A madrinha interrogou-a. Mentira! Infâmia daquela Georgina! Naquele dia, ele a beijara. Mas chamara-a de “noivinha”. Ia pedi-la. Atirou-se nos braços da madrinha, chorando.


Ricardo Braz andava preocupado. Quase não aparecia. Abrira na própria redacção do “Estado da Bahia” um escritório de advocacia. E passava os dias a esperar o primeiro cliente. Queria casar, o rapaz. Amavam-se, ele e Ruth. Mas a pequenez dos vencimentos tornava impossível pensar em casamento.

Ganhava 500$000 na Prefeitura. Retirava 200$000 no Estado da Bahia.

Não dava para viver. E, demais, não havia de ser um pobre funcionário público toda a vida. E o rapaz emagrecia pensando nos meios que poderia arranjar para ganhar bem.

 - Se eu tivesse a alma de ladrão do Gomes!

 - Cachorro! Vá aborrecer outro…

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