DO
CARNAVAL
Episódio Nº 50
O rompimento, inevitável,
dera-se. O Gomes brigara com Pedro Ticiano. Os demais, num gesto de
solidariedade, acompanharam Ticiano, apesar de reconhecerem que o director
comercial do “Estado da Bahia” tinha razão.
Quando Paulo Rigger chegou
do Rio, José Lopes contou-lhe o caso:
- Avalie que nós conversámos sobre o Carnaval.
Ricardo afirmava ser impossível escrever hoje um conto de Carnaval com alguma
originalidade. Sempre a mesma repetição. Um pai dá inteira liberdade à filha e
num carnaval encontra uma máscara atraente, leva-a para um quarto e, quando a
despe, reconhece a filha.
E, naturalmente, em vez de
filha, pode ser a esposa, a irmã, a avó… Mas sempre a mesma coisa…
- Sim.
- Eu apoiava Ricardo. Ticiano comprometeu-se a
fazer um conto carnavalesco original. Apostamos. E no outro dia…
- O que foi que teve?
- O “Estado da Bahia” publicou o conto que deu
lugar ao rompimento.
- Original?
- Originalíssimo. Mais do que isso, imoral.
Sabe o conto que Ticiano escreveu? Um viúvo tinha três filhos. O primeiro, já
rapaz, frequentava uma academia e alguns campos de futebol. O segundo, não era
um filho, era uma filha. E o mais moço, garoto de uns catorze anos, internara-o
o pai num colégio.
A filha, educada à americana,
usava e abusava da liberdade que lhe davam. Vem o Carnaval. Ticiano descreveu
maravilhosamente a “festa do instinto”. O velho mete-se numa máscara e sai para
a pândega. A família toda já saíra. Só o filho mais moço devia estar a dormir
no internato.
Num baile onde se jogara,
o viúvo vê um lindo pierrô. Formas perfeitas, divinas… Dançaram, beberam,
conversaram. Meia-noite dirigiram-se para um aposento. O velho, repentinamente,
suspende a máscara da sua companheira e reconhece, horrorizado….
- … a filha? Igual aos outros!
- Não, homem. O filho! O que estava interno.
Fugira do colégio, alugara uma fantasia, e viera dançar…
- Quá, quá, quá!
Gomes danou-se quando leu
o conto publicado. “Uma coisa homossexual que desmoralizava o seu jornal.”
Discutiram. Ticiano zangou-se e resolveu sair.
Quisemos conseguir as
pazes. Gomes nos tratou mal. Saímos também, solidários com Ticiano.
- Que cachorro, aquele Gomes! Afinal, deve
tudo quanto é a você, José Lopes. Quando só tinha a Bahia “Nova” você o sustentava.
E agora…
- E Ticiano que deu o nome ao “Estado da Bahia”?
- Cachorro!
- Canalha!
- Eu sempre disse que ele não prestava –
lembrou Jerónimo.
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