sábado, março 23, 2013

Baiana do Acarajé

O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 54

Não acredito. Pedro não é feliz. Garanto que ele sofre uma tragédia intensa. Muito orgulhoso, não conta nem com os amigos.

 - Acho que não. Pedro colocou-se acima de tudo. Acima da própria vida. É superior. Não sente as alegrias e as dores quotidianas.

 - O homem que não sentisse as alegrias e as dores quotidianas seria o homem sereno. Mas esse homem ideal não existe. Ticiano sente também… Principalmente as dores…

 - E a felicidade o que é?

 - Talvez seja o encontrar uma consolação na vida…

 - Como?

 - Um sistema filosófico, uma religião…

 - Pode ser. A mim só falta tentar a religião.

 - Você fracassará na religião também…

 - Por quê?

 - Porque a religião só satisfaz quando chegamos a ela pela filosofia. A não ser assim…
- A não ser assim…



 - … pode sentir-se a beleza da religião, a poesia, mas a gente se saciará como se sacia de uma mulher… Não conhece as bases, os porquês…

 - Entretanto, o povo, os homens ignorantes, que nem sabem o que seja a filosofia, sentem-se felizes na religião.

 - Os ignorantes, sim. Mas você é um homem superior.

 - Que desgraça se ter um pouco de inteligência! Eu daria toda a minha fortuna em troca da ignorância de um pobre diabo desses.

 - Velha aspiração, meu amigo, de todo o homem inteligente.

Pediram outro vermute. José Lopes continuou:

 - Eu tenho um romance pronto sobre esse assunto, Paulo…

 - Tem? Quando sai?

 - Mas não posso publicá-lo. Cadê dinheiro?

 - Eu financio a edição… Mas vamos tratar logo disso.

Paulo Rigger pagou a despesa. José Lopes, metido numa roupa surrada, muito magro, era a imagem da vida de todos eles.

 - José Lopes, por que você não vai morar em minha casa? Eu vou mandar preparar um quarto para você…

 - Não Rigger. Deixe-se de trabalhos…

 - Vou mandar. E amanhã você se muda.

 - Não, senhor. Eu não sei viver em casa de família. Não vou, decididamente.

 - Você…

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