terça-feira, março 26, 2013


O PAÌS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 56


O Brasil continuou o mesmo. Não melhorou nem piorou. Feliz Brasil, que não se preocupa com problemas, não pensa e apenas sonha em ser, num futuro muito próximo, “o primeiro país do mundo”…


Ricardo Vaz voltou da roça com a esposa. Rute mais gorda, mais mulher, encostava-se ao ombro do marido, muito lânguida.

Paulo Rigger olhou Ricardo nos olhos a ver se encontrava o micróbio da saciedade. José Lopes que o entendeu, segredou.

 - É cedo ainda.

Visitaram Ticiano, Pedro comovia-se. Parecia-lhe ser a última vez que via Ricardo.

 - Você vai para o Piauí. Quando voltar não mais me encontrará… não existirei mais…

 - Deixe disso, Ticiano.

 - É a verdade. Sinto-me fraco. Mas, felizmente, eu ainda tenho vocês…

A conversa descambou para o livro de José Lopes.

 - Formidável! – acha Ricardo Braz.

 - É que a tragédia de vocês todos está em mim. O fracasso de Rigger na carne e no sentimento. O de Ticiano no cepticismo. O fracasso que você, Ricardo, terá inevitavelmente na vida burguesa que vai levar…

 - Veremos…

 - Você pensa que eu fracassei? – interrogou Ticiano.

 - Isso de você se colocar sobre a vida é um fracasso. Você não venceu na vida. Ficou espectador… Fracassou.

 - Talvez… Talvez…

 - É a minha própria tragédia. Porque eu sei que nada me satisfará e tenho medo de ficar como você, Ticiano. É-me impossível ficar indiferente à vida. Terei que sofrer sempre…

A neta de Ticiano trouxe café. E sorveram aos goles, lentamente, num gesto de cansaço, o líquido negro…


José Lopes despediu-se logo. Jerónimo Soares acompanhou-o. Paulo Rigger ficou. Queria demorar mais tempo com Ricardo Braz que partia, aventureiro da Felicidade, para uma cidadezinha melancólica.

 - Por que você preferiu ir pelo interior da Bahia? Não seria melhor a viagem num navio? – interessava-se, triste à ideia de que o amigo viajava para longe deles.

 - Não. Pelo trem é mais interessante. Vou até Juazeiro. Passarei para o Piauí. E ficarei…

 - Você vai fazer uma falta…

 E Paulo Rigger ficou a olhar o trem imóvel. Chuviscava, Ruth, metida num grande num grande “manteau”, quase desaparecia.

Fez graça:

 - Eu tenho mais direito a Ricardo. Sou esposa… Os senhores são apenas amigos.

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