quinta-feira, março 28, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 58


Todos se agarram a ela ferozmente. Até os que, como ele, fracassados, não tinham nenhuma esperança (esperança nossa de todo dia!) de alcançar nem os restos de Felicidade…

Entretanto, ele se agarrara à vida. Não a quisera largar. O revólver tremeu na sua mão, naquela tarde cinzenta, tarde de suicidas…

E pensou no grande trem em que Ricardo se fora. Para tão longe, o amigo…

 - Nós fomos os mosqueteiros da Felicidade. Tentámos juntos a aventura. Eu fracassei. José Lopes sempre foi um fracassado. E Ricardo, em vez de ficar connosco, a viver a nossa tragédia, preferiu encontrar o sentido da vida…

Inquietação… Necessidade de um fim. Por quê? Por que aquela dúvida? Para que aquela insatisfação?

 - Literatura…

E a voz de Ruth soava-lhe aos ouvidos, cantante.

 - Vou ser feliz.

 - Seja… (a desilusão da sua voz).

Coitado! E quando se saciasse? E quando sentisse que não bastavam as alegrias de sempre e as tristezas de sempre? Seria uma tragédia horrível. Qual seria o fim de Ricardo? Tão bom, tão sincero… Triste fim…

Um garoto sujo, mal vestido, vendia jornais. O Sol, rompendo as nuvens que enchiam o céu, dava um ar da sua graça. Naquela manhã, o Sol brasileiríssimo quisera imitar o céu de Londres. E estava cabotinamente plúmbeo.

Paulo Rigger chamou o garoto dos jornais. Comprou um. E começou a ler para afastar os pensamentos que o punham melancólico.

Comprara por acaso um “Estado da Bahia”. O artigo de fundo estudava o momento político. Estudava em pátria adorada, em regeneração, em reerguimento do país, em honra. Paulo Rigger leu o artigo todo. No fim, a assinatura: A. Gomes.

O Gomes agora escrevia… Quem havia de dizer?... Mas o mundo dá tantas voltas… Gomes… Esse também nunca teria a Felicidade. Inteligente, pensara que o dinheiro saciaria a sua insatisfação. E não sabia como o dinheiro aborrece ás vezes.

Ele, Paulo Rigger, tão rico, que o dissesse… O dinheiro serve apenas para satisfazer os instintos… E o instinto, por mais que Rigger tivesse vontade de negá-lo, não é tudo na vida.

O automóvel rodava pela cidade. Paulo ordenou ao chofer que parasse em frente de um bar. Não encontrou José Lopes. E seguiu.

E José Lopes? Quando o conheceu julgou encontrar o tipo de homem sereno. E depois, que diferença! Um homem cheio de problemas, incrivelmente infeliz… Sob aquela aparência de burguês, um sofredor, um desses heróis de tragédias absurdas.

E agora, que já não acreditava em nada, passava o tempo a beber… Morria tuberculoso, qualquer dia… Tipos infelizes, os seus amigos. Os únicos amigos, esses do Brasil. Os camaradas da França já os esquecera…

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