DO
CARNAVAL
Episódio Nº 58
Todos se agarram a ela
ferozmente. Até os que, como ele, fracassados, não tinham nenhuma esperança
(esperança nossa de todo dia!) de alcançar nem os restos de Felicidade…
Entretanto, ele se
agarrara à vida. Não a qui sera
largar. O revólver tremeu na sua mão, naquela tarde cinzenta, tarde de
suicidas…
E pensou no grande trem em que Ricardo se fora.
Para tão longe, o amigo…
- Nós fomos os mosqueteiros da Felicidade.
Tentámos juntos a aventura. Eu fracassei. José Lopes sempre foi um fracassado.
E Ricardo, em vez de ficar connosco, a viver a nossa tragédia, preferiu
encontrar o sentido da vida…
Inqui etação…
Necessidade de um fim. Por quê? Por que aquela dúvida? Para que aquela
insatisfação?
- Literatura…
E a voz de Ruth soava-lhe
aos ouvidos, cantante.
- Vou ser feliz.
- Seja… (a desilusão da sua voz).
Coitado! E quando se
saciasse? E quando sentisse que não bastavam as alegrias de sempre e as
tristezas de sempre? Seria uma tragédia horrível. Qual seria o fim de Ricardo?
Tão bom, tão sincero… Triste fim…
Um garoto sujo, mal
vestido, vendia jornais. O Sol, rompendo as nuvens que enchiam o céu, dava um
ar da sua graça. Naquela manhã, o Sol brasileiríssimo qui sera
imitar o céu de Londres. E estava cabotinamente plúmbeo.
Paulo Rigger chamou o
garoto dos jornais. Comprou um. E começou a ler para afastar os pensamentos que
o punham melancólico.
Comprara por acaso um
“Estado da Bahia”. O artigo de fundo estudava o momento político. Estudava em
pátria adorada, em regeneração, em reerguimento do país, em honra. Paulo Rigger
leu o artigo todo. No fim, a assinatura: A. Gomes.
O Gomes agora escrevia…
Quem havia de dizer?... Mas o mundo dá tantas voltas… Gomes… Esse também nunca
teria a Felicidade. Inteligente, pensara que o dinheiro saciaria a sua
insatisfação. E não sabia como o dinheiro aborrece ás vezes.
Ele, Paulo Rigger, tão
rico, que o dissesse… O dinheiro serve apenas para satisfazer os instintos… E o
instinto, por mais que Rigger tivesse vontade de negá-lo, não é tudo na vida.
O automóvel rodava pela
cidade. Paulo ordenou ao chofer que parasse em frente de um bar. Não encontrou
José Lopes. E seguiu.
E José Lopes? Quando o
conheceu julgou encontrar o tipo de homem sereno. E depois, que diferença! Um
homem cheio de problemas, incrivelmente infeliz… Sob aquela aparência de
burguês, um sofredor, um desses heróis de tragédias absurdas.
E agora, que já não
acreditava em nada, passava o tempo a beber… Morria tuberculoso, qualquer dia…
Tipos infelizes, os seus amigos. Os únicos amigos, esses do Brasil. Os
camaradas da França já os esquecera…
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