quarta-feira, abril 17, 2013

Educação para o Consumo


Leio nos jornais que o nível de endividamento dos portugueses já vai nos 125% do PIB ou seja, do valor de toda a riqueza que conseguimos produzir num ano, cerca do dobro do que seria razoável para o nosso país.

 A divida pública dispara porque os juros a fazem aumentar. Lembro - me das dificuldades financeiras do meu pai, quando eu era jovem e ele tinha de pedir dinheiro ao banco para pagar os juros ficando a dever  ainda mais quando não o obrigavam a amortizar qualquer coisa, pouco que fosse. 


É um processo diabólico, meus amigos, e que me marcou para toda a minha vida correndo o risco de ter passado por "poupadinho", "unhas de fome", tudo o que quiserem menos pedir dinheiro ao banco para satisfazer as despesas da vida...

Hoje, a situação é dramática: os rendimentos continuam a baixar, o consumo a descer e a possibilidade de contrair dívidas junto dos bancos quase impossível quando, até há pouco tempo, eles "corriam" atrás das pessoas para lhe emprestarem dinheiro...


A educação para o consumo não foi feita. O deslumbramento dos grandes espaços, das prateleiras a perder de vista, dos carrinhos deslizando à nossa frente e, finalmente,  dos cartões de crédito que nem sequer permitem um último olhar ao dinheiro em termos de despedida...


Julgamos ser isso um pormenor sem qualquer importância mas não é. Uma das coisas que aprendi quando aluno de economia foi a do saldo utilidade - desutilidade que mental e inconscientemente efectuamos quando compramos seja o que for.


Eu explico: 


 - Tenho uma nota na mão esquerda, na direita o objecto a comprar e, nesse momento mágico,  aquilo que a minha mente processa, ou devia processar, seria uma simples comparação nestes termos: -  "será que o agrado ou utilidade daquele objecto compensa o desagrado que constitui eu ficar sem a nota que me custou a ganhar?


Ora bem, muita coisa entra em jogo neste raciocínio, de um lado e do outro, a favor da compra e contra a compra mas, uma coisa é certa, se em vez da nota eu tiver na mão um simples cartão é mais fácil decidir-me  pela compra, até porque eles devolvem sempre o cartão...


Percebemos hoje, melhor do que nos últimos anos, como é difícil e acima de tudo precário, ganhar dinheiro. O que nos acenam é com o desemprego e a diminuição das pensões e reformas que tendem a ser uma e a mesma coisa numa altura das nossas vidas em que já nada podemos fazer para as melhorar.


Por isso, a "nota" que seguramos na mão esquerda quando fazemos a compra, é cada vez mais importante e talvez por isso, neste momento, 80% delas, nós as gastamos em alimentos para a família.


Mas, mesmo neste sector de despesas, a educação ao consumo não deixa de ser importante.


Eu conto-vos o exemplo que o meu então jovem professor de economia me dava no ano lectivo de 1961:


 - Um jovem estudante de economia chegado  a Londres deu-se com o drama de ter apenas uma moeda de penny no bolso. Lembrando o que tinha estudado sobre o saldo utilidade-desutilidade no momento em que, na compra, nos desfazemos do dinheiro, o que ele procurou saber foi qual o alimento que lhe poderia dar mais utilidade perante a desutilidade de ficar sem a sua única e preciosa moeda.


Pois bem, sabem o que comprou? - Amendoins, exactamente amendoins, de que em miúdo a minha mãe me municiava em cartuxos de papel pardo para eu atirar aos macacos quando visitava o Jardim Zoológico. Efectivamente, os amendoins eram, nessa época, o que se podia comprar com mais calorias para o organismo com tão pouco dinheiro.


Pelo resto da minha vida nunca esqueci o rapaz dos amendoins e cada vez mais temos que agir e raciocinar como ele. A educação para o consumo, mais do que nunca, é agora importante para a saúde e para a bolsa.


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