sábado, abril 27, 2013

António Balduíno 

JUBIABÁ

Episódio Nº 2


Estavam numa raiva porque o negro apanhava. Eles haviam pago os três mil reis de entrada para ver o campeão baiano dar naquele branco que se dizia campeão da Europa Central.

E agora estavam assistindo era o negro apanhar. Não estavam satisfeitos, moviam-se inquietos e oram vivavam o branco, ora o vaiavam. E respiraram aliviados quando o gongo soou, dando fim ao round.

António Balduíno veio para o canto do ring se segurando às cordas. Aí, o homem magro que mordia o cigarro inútil, cuspiu e gritou:

 - Onde está o negro António Balduíno que derrubava brancos?

Aquilo António Balduíno ouviu. Bebeu um gole da garrafa de cachaça que o Gordo lhe oferecia e virou para a assistência, procurando o dono daquela voz.

Voz que voltou, metálica:

 - Quedê o derrubador de brancos?

Desta vez, parte da multidão acompanhou o homenzinho e disse em coro:

 - Quede? Quede?

Aquilo doeu a Balduíno como uma chibatada. Não sentia nenhum dos socos do branco, mas sentia aquela censura dos torcedores. Disse ao gordo:

 - Quando eu sair daqui dou uma surra neste sujeito. Marque ele…

E, quando soou o sinal de recomeçar a luta o preto se atirou em cima de Ergin. Pôs um soco na boca do alemão e em seguida um no ventre. A multidão reconhecia novamente o seu campeão e gritou:

 - Aí, António Balduíno! Aí, Baldo! Derruba ele…

O negro baixo voltou a ritmar pancadas nos joelhos. O magro sorria.

O negro continuava a dar e sentia uma grande raiva dentro de si.

Foi quando o alemão voou para cima dele querendo acertar no outro olho de Balduíno. O negro livrou o corpo com um gesto rápido e como a mola de uma máquina que se houvesse partido distendeu o braço bem por baixo do queixo de Ergin, o alemão.

O campeão da Europa Central descreveu uma curva com o corpo e caiu com todo o peso.

A multidão rouca, aplaudia em coro:

 - Bal-do…  Bal-do…  Bal-do…

O juiz contava:

 - … seis… sete… oito…

António Balduíno olhava satisfeito o branco estendido a seus pés. Depois passou os olhos pela assistência que o vaiara, procurando o homem que dissera que ele não era mais o derrubador de brancos. Como não o achasse, sorriu para o Gordo. O juiz contava:

 - …nove…dez…

Suspendeu o braço de Balduíno. A multidão berrava mas o negro só ouvia a voz metálica do homem do cigarro:

 - Aí negro, você ainda derruba brancos… 

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