sexta-feira, abril 05, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 65

Encontraram-se em casa de Pedro Ticiano. O amigo piorara repentinamente e a notícia os levara a visitá-lo. Paulo Rigger, muito triste, muito sentimental, com um medo horrível de que Pedro Ticiano morresse.

Ticiano ajudava-o com as suas blagues e o seu cepticismo a suportar a vida. Jerónimo Soares, com uma cara de Madalena arrependida, conversava, relembrando ironias de Pedro.

Junto ao leito, pobre, onde o doente descansava os ossos e a pele, estava José Lopes, empunhando uma grande colher cheia de remédio. Pedro, ainda lúcido, procurava conversar.

 - Vocês são muito bons! Não sei como pagar-vos tanta bondade…

 - Ora, Ticiano, deixe disso…

- É nosso dever. Nós lhe devemos tanto…

E Jerónimo Soares enumerava os benefícios que Pedro Ticiano lhe fizera.

José Lopes, ao ministrar o remédio, disse a Pedro:

 - Aquele não lhe deve nada, Ticiano. Se você continuar a ter influência sobre aquele rapaz, fá-lo-á um infeliz…

 - Mas pelo menos ele ficará diferente da totalidade dos homens. Isto é que eu quis fazer. Um homem diferente, digno de nós.

 - Mas ele não dá para isso. É muito bom rapaz…

 - Muito bom. Uma grande alma…

 - Isso faz com que a gente perdoe a pequenez do cérebro…

 - Coitado!

Pedro Ticiano interessava-se por Ricardo Braz. Já haviam recebido carta dele?

 - Não. Ele, na sua felicidade burguesa, não nos escreve – respondeu Paulo.

José Lopes contestou:

 - Nada disso… Ele não escreve porque está sendo infeliz. Ricardo é muito orgulhoso. Nós vivíamos dizendo que no amor não existe Felicidade; que ele se saciaria. Ele se saciou.

Talvez a estas horas sofra horrivelmente. Mas o orgulho não deixa que ele desabafe com os amigos… Ricardo nunca confessará que errou.

 - É isso mesmo – apoiava Ticiano, a voz fraca, fina.

 - Meu pobre Ricardo…

 - Você, Paulo, ficou sentimental, depois da sua tragédia amorosa…

 - É verdade. Eu hoje só tenho vocês, meus amigos. Se os perco fico sozinho na vida e não sei o que acontecerá. E, em verdade, eu já os estou perdendo. José e Jerónimo não aparecem. Ticiano, doente. Ricardo no Piauí.

- Eu quero furtar a vocês o espectáculo da minha miséria…

 - Que orgulho, José!

 - E Jerónimo oculta a sua felicidade. Deve ser assim… A gente deve sofrer e gozar sozinho.

 - Não lhe reconheço hoje, José.

 - É que eu, Paulo, estou a ser sincero…

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