DO
CARNAVAL
Episódio Nº 77
Rápida, a transformação de
José Lopes. Desaparecera por um mês. Inúteis as caminhadas empreendidas por
Paulo Rigger, de bar em bar, a ver se o encontrava. José Lopes sumira. A casa
do jogo fechara. A dona da pensão não dava notícias. E Paulo Rigger decidira
desistir quando, uma tarde o encontrou, bem vestido, ar sereno, saindo de um
consultório médico.
Correu para ele, deitando
abaixo uma infinidade de embrulhos que um respeitável pai de família levava
conscienciosamente para casa.
- Alô, José.
José Lopes voltou-se.
Envolveu Paulo Rigger carinhosamente nos braços.
- Ia procurar você.
- Você desapareceu. Tenho gasto as pernas em
procurá-lo…
Paulo Rigger ficou a
admirar o amigo. A face calma, sorriso nos lábios, teria ele encontrado o “fim”
da vida?
- Você está outro… Inteiramente mudado… Calmo.
- Acha?
- Você está apaixonado?
- Não. Felizmente.
- Que diabo então lhe
aconteceu para você ficar assim?... Você lembra aquele anúncio, não sei de que
remédio? “Antigamente eu era assim” e via-se o retrato do homem mais ou menos
doente; “cheguei a ficar assim” e o homem virava caveira; “hoje estou assim”
graças ao tal remédio, e o homem estava gordo e forte.
Você realizou o milagre do
anúncio. Quando eu o conheci você estava mais ou menos doente. Piorou depois
grandemente. Hoje está como que curado…
José Lopes, escutava-o
sorridente.
- Com que remédio você se curou?
- Vamos a um bar? Lá conversaremos melhor.
- Vamos.
- Cheio, o bar! Um rádio a torcer um jogo de
futebol. Mulheres saltitantes dando sorrisos. Homens graves bebendo calmamente
na alegria serena que dá a mais santa das virtudes. A imbecilidade.
Esconderam-se numa mesa do
canto. Paulo Rigger não era o mesmo elegante de quando chegara da Europa. Não ligava
para as roupas, cheio de problemas, todo subjectivado. Apesar disso, as
mulheres olhavam para ele. Pois o Dr. Paulo Rigger não possuía grandes fazendas?
- Será que a filosofia…?
- Sim…
- Você se lembra de Pedro
Ticiano, José Lopes? Ele dizia que a gente vive por viver. Que só se consegue
uma calma, ainda que relativa, deixando de desejar. Ficando indiferente… Nada
querer. Super – Buda.
Ele chegou a esta
perfeição. Nós, homens do nosso século, não idolatramos como ele a dúvida. Nós
a combatemos. E combatíamos Pedro Ticiano.
<< Home