sexta-feira, abril 19, 2013


O PAÍS
DO
CARNAVAL

Episódio Nº 77

Rápida, a transformação de José Lopes. Desaparecera por um mês. Inúteis as caminhadas empreendidas por Paulo Rigger, de bar em bar, a ver se o encontrava. José Lopes sumira. A casa do jogo fechara. A dona da pensão não dava notícias. E Paulo Rigger decidira desistir quando, uma tarde o encontrou, bem vestido, ar sereno, saindo de um consultório médico.

Correu para ele, deitando abaixo uma infinidade de embrulhos que um respeitável pai de família levava conscienciosamente para casa.

 - Alô, José.

José Lopes voltou-se. Envolveu Paulo Rigger carinhosamente nos braços.

 - Ia procurar você.

 - Você desapareceu. Tenho gasto as pernas em procurá-lo…

Paulo Rigger ficou a admirar o amigo. A face calma, sorriso nos lábios, teria ele encontrado o “fim” da vida?

 - Você está outro… Inteiramente mudado… Calmo.

 - Acha?

 - Você está apaixonado?

 - Não. Felizmente.

- Que diabo então lhe aconteceu para você ficar assim?... Você lembra aquele anúncio, não sei de que remédio? “Antigamente eu era assim” e via-se o retrato do homem mais ou menos doente; “cheguei a ficar assim” e o homem virava caveira; “hoje estou assim” graças ao tal remédio, e o homem estava gordo e forte.

Você realizou o milagre do anúncio. Quando eu o conheci você estava mais ou menos doente. Piorou depois grandemente. Hoje está como que curado…

José Lopes, escutava-o sorridente.

 - Com que remédio você se curou?

 - Vamos a um bar? Lá conversaremos melhor.

 - Vamos.

 - Cheio, o bar! Um rádio a torcer um jogo de futebol. Mulheres saltitantes dando sorrisos. Homens graves bebendo calmamente na alegria serena que dá a mais santa das virtudes. A imbecilidade.

Esconderam-se numa mesa do canto. Paulo Rigger não era o mesmo elegante de quando chegara da Europa. Não ligava para as roupas, cheio de problemas, todo subjectivado. Apesar disso, as mulheres olhavam para ele. Pois o Dr. Paulo Rigger não possuía grandes fazendas?

 - Será que a filosofia…?

 - Sim…

- Você se lembra de Pedro Ticiano, José Lopes? Ele dizia que a gente vive por viver. Que só se consegue uma calma, ainda que relativa, deixando de desejar. Ficando indiferente… Nada querer. Super – Buda.

Ele chegou a esta perfeição. Nós, homens do nosso século, não idolatramos como ele a dúvida. Nós a combatemos. E combatíamos Pedro Ticiano.

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