quarta-feira, maio 22, 2013


JESUS É DE DIREITA
OU DE ESQUERDA?






A maior parte das pessoas que frequentam a igreja, que alinham nas peregrinações aos santuários, que fazem promessas, rezam e suplicam graças a Deus, são de direita e votam em partidos de direita, muitos deles influenciados pelos padres das suas aldeias de acordo com orientações dos seus bispos.


Por isso, tem algum cabimento perguntar se Jesus seria considerado, aos olhos de hoje, um função das posições que tomou, do que terá dito (ou de quem lhe escreveu o guião) e chegou até nós, se era um homem de esquerda ou de direita.

Repare-se no que ele disse à cerca da mulher adúltera:

 - “Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra”… numa atitude de total fractura com os costumes da época e até de diversas igrejas de hoje que reclamam a sua herança.

E sobre os ricos:

- “É impossível a um rico entrar no reino do céu. Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no reino do céu. Repito-vos: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu”

Se estas afirmações não constituem uma condenação directa, pelo menos aos homens ricos do seu tempo, não deixam quaisquer dúvidas de que “os ricos não pertencem à fraternidade com que Jesus queria construir na terra o reino dos céus” e colocam-no num posicionamento ideológico de esquerda, de acordo com os conceitos de esquerda/direita dos dias de hoje.

O Novo Testamento, principal fonte dos ensinamentos de Jesus terá sido escrito pelos seus discípulos, chamados “evangelistas”, entre os anos 60 e 100 da era cristã.


 Embora Jesus tenha falado em aramaico, uma língua com alfabeto próprio ainda em uso, na sua versão moderna, na Arménia e em certas partes da Síria, o Novo Testamento chegou até nós em grego, que era a língua franca da época.

Centenas de escritos produzidos depois do Século I não integram os quatro Evangelhos (esta palavra vem do grego e significa: “boas mensagens ou boas novas”) do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João, e ficaram a constituir os Evangelhos Apócrifos que estão na base de muitas celeumas entre historiadores, linguistas e hermeneutas (pessoas especializadas em interpretar textos escritos).

Aliás, várias religiões cristãs têm cânones diferentes aceitando uns e recusando outros.

Joaquim Carreira das Neves, 78 anos, padre franciscano, especialista em Estudos do Próximo Oriente e profundo conhecedor das circunstâncias históricas contemporâneas dos escritos do Novo Testamento afirma:

- 
“Se vivesse hoje, Jesus era de esquerda, porque andava com os desclassificados e marginalizados. Jesus tinha muito apreço pelos que eram mais descriminados e andava sempre ao lado dos mais desfavorecidos”.

Richard Dawkins, prémio Nobel, ateísta militante, de quem estamos passando uma entrevista dada por ele no Brasil, é um grande admirador de Jesus tendo mesmo escrito um artigo intitulado “Ateus por Jesus”.

Na sua opinião, a superioridade moral de Jesus confirma precisamente que a ética dos tempos em que foi educado não o satisfazia. Afastou-se explicitamente delas, por exemplo, quando desvalorizou os avisos severos quanto a desrespeitar o “sabat”: 

“O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado”.

José Manuel Pureza, especialista em Estudos da Paz, docente de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra, afirma:

- “Cristo foi um revolucionário, um blasfemo. Morreu assassinado, não morreu nem de velho nem doente – foi morto pelo poder político e religioso da época”.

Parece, pois, que se aceitarmos como boa a dicotomia entre “transformação” e “conservação”, para separar a esquerda da direita, então, não há dúvidas sobre onde colocar Jesus:

- “Pôs-se sempre do lado da transformação – isso é, para mim, suficiente para dizer que de direita ele não seria”, conclui o professor.


Isto significa que a Igreja de Roma, tradicional, ao longo dos séculos, conseguiu virar os seguidores de Jesus contra o próprio Jesus que se viesse cá agora não os reconheceria nem se reconheceria numa boa parte do seu rebanho.

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