Episódio Nº 10
Terminava debaixo de aplausos:
Zombei de moços e velhos
Zombei também de meninos
Hoje chegou o meu dia
Vou cumprir o meu destino
Vinha mais um samba. Bem saudoso, cantado com a voz
mais triste de Zé Camarão:
Vou-me embora desta terra
Que só tem mulher malvada
Vou-me embora desta terra
Levando uma saudade…
As mulheres gritavam.
- É tão bonito…
- Triste de fazer dó…
Uma mulher de barrigão, grávida de muitos meses,
contava a outra a sua história, sobriamente:
- Enquanto eu era
bonita ele gostava de mim. Não havia presente que não me desse. Disse até que
ia casar no padre e no juiz…
- No padre e no
juiz?
- Sim, minha
filha… Homem quando quer enganar é pior que o Sujo…
Prometeu um mundão de coisas… Eu feito besta acreditei
nele… Levámos por aí uma vida ordinária… Me encheu deste jeito… Tive que
trabalhar e amarelei, perdi a cor, ele foi embora com uma cabrocha vagabunda
que vivia abrindo os dentes para ele…
Por que você não faz feitiço para ele voltar?
- Pra quê?
Estou cumprindo o meu destino… O destino é Deus quem dá…
- Pois olhe: eu
se fosse você fazia feitiço pelo menos para doença na bicha que levou seu
homem… Então, vê lá… Uma mulher leva meu homem e fica assim… Igual a nada? Fica
não, meu amor… Botava feitiço, dava lepra nela e ele voltava direitinho… E com
pai Jubiabá que bota tão bem, feitiço tão forte…
- Pra quê? Destino é coisa feita lá em cima – apontava
para o céu. – A gente já vem com o seu para o mundo, tem de cumprir… Esse que
está aqui dentro – mostrava a
barriga enorme – já tem o dele prontinho…
A velha Luísa apoiava:
- Tem razão,
minha filha. É isso mesmo…
A conversa generalizava:
- Pois olhe:
você conhece Gracinda, uma morena que mora no Guindaste dos Padres?
Uma mulherzinha conhecia:
- Não é uma sem dentes, feia como um jaracuçu?
- Essa mesmo…
Pois olhe, com aquela cara toda tomou o homem da Ricardina que é um mulherão…
Feitiço forte que Jubiabá fez…
O feitiço ela fez foi na cama – riu o mulato.
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