sexta-feira, maio 31, 2013

JUBIABÁ

EPISÓDIO Nº 30

Mas ele era um negro valente e sabia mais do que outros. Um dia fugiu, juntou um bando de negro e ficou livre que nem na terra dele.

Aí foi fugindo mais negro e indo para junto de Zumbi. Foi ficando uma cidade grande de negros. E os negros começaram a se vingar dos brancos. Então os brancos mandaram soldados para matar os negros fugidos. Mas soldado não se aguentava com os negros. Foi mais soldado. E os negros deram nos soldados.

António Balduíno tinha os olhos abertos e tremia de entusiasmo.

 - Aí foi um mundão de soldado, mil vezes maior que o número de negros. Mas os negros não queriam mais ser escravos e quando viam que perdiam, Zumbi, para não apanhar mais de homem branco se jogou de um morro abaixo. E os negros todos se jogaram também…

Zumbi dos Palmares era um negro valente e bom. Se naquele tempo tivesse vinte igual a ele, negro não tinha sido escravo…

António Balduíno, naquele dia em que morrera sua tia, encontrou um amigo para substituir a velha Luísa no seu coração: Zumbi dos Palmares. Ele foi daí em diante o seu herói predilecto.


Tinha algumas consolações aquela vida atrapalhada pelas encrencas de Amélia. Havia em primeiro lugar Lindinalva que brincava com António Balduíno.

Ele era capaz de passar horas e horas parado, olhando para o rosto de santa que ela possuía. Depois tinha o cinema que foi para ele uma revelação. E ao contrário de todos os meninos, sempre torcia nas fitas de cow-boy pelo índio mau contra o mocinho branco.

O sentido de raça e de raça oprimida, ele o adquirira à custa das histórias do morro e o conservava latente. Tinha também Zé Camarão que agora vinha ensinar violão a uns rapazes que moravam no sobrado velho do fim da rua, e que também dava aulas a Balduíno.

O trabalho em casa do comendador não era grande: copeirava, lavava os pratos, ia às feiras, fazia recados. O comendador até pensava em levá-lo para trabalhar na sua casa comercial:

 - Quero fazer alguma coisa por este negro – Este preto é esperto, este diabo…

Com as surras António Balduíno aprendera a ser dissimulado. Agora fumava escondido, dizia palavrões em voz baixa, mentia descaradamente.


Pois foi aquela ideia do comendador de melhorar a sorte de António Balduíno, dando-lhe um emprego na sua casa comercial, com ordenado e possibilidades de fazer alguma coisa na vida, que obrigou o negro a fugir.

Nesta época António Balduíno já tinha quinze anos e já há três suportava o ódio de Amélia.

O caso que deu lugar à sua fuga passou-se assim: quando o comendador anunciou num domingo que no outro mês António Balduíno começaria a trabalhar no armazém, Amélia teve um acesso de raiva.


Ela tinha verdadeiras crises de ciúme, não podia compreender por que os patrões protegiam aquele negro e queriam fazer dele gente.

Site Meter